Muitos pensam que são livres, e
querem garantir seu direito de ser livre. Mas, sinto dizer, não somos livres.
Quando fui votar a primeira vez
em urna eletrônica (e Brasília foi um dos primeiros lugares onde isso aconteceu)
senti que estava atada.
Na ocasião eu recebia em casa um
amigo de São Paulo que vinha trabalhar na criptografia do Imposto de Renda do
Banco Central e, com base nas nossas conversas, já na primeira vez que a
mesária digitou meu número de título de eleitor e que me falou: “agora você
pode ir ali votar” eu pensei, e falei em voz alta, pois sou impulsiva: “Nossa! Meu voto não é mais secreto!”
Hoje passo no posto de gasolina e
o moço me pergunta: “quer pontuar premia, moça?”, assim, na primeira vez que
digitei o CPF numa dessas máquinas falei: “agora meu CPF já está vinculado à
minha senha na tua maquininha!” (e obviamente na rede da qual ela faz parte).
E, ao abrir meu notebook hoje (instrumento
de trabalho,) vejo que o Windows já me liga direto na minha conta Hotmail, e
percebo que minha vida está rastreada. Por essa via é possível saber quem sou,
por onde ando, quantos piratas e quantos originais eu tenho no meu computador,
quem são minhas redes, meus gostos e preferências ... etc.
Ao abrir meu instrumento de
trabalho entro na internet automaticamente e, enquanto digito esse texto aqui
no word, sinto a vulnerabilidade dessa experiência de liberdade.
Então, me pergunto: de que
liberdade falar?
Não pode ser a liberdade do
liberalismo, pois ela prevê que estou num mundo social e o mundo social está no
mundo material, e nessa vivência material não me sinto livre mesmo!
No meu entender é essa experiência
material que nos afronta tanto e que nos leva a se posicionar ante um ou outro
candidato nesse momento de nossa história. Ou mesmo se posicionar no nulo, no
branco. É uma decisão pautada pelo nosso material do dia a dia. O dinheiro
suado que ganho e o dinheiro fácil que é roubado dos cofres públicos numa nação
em conflitos com a lei. O que posso ter ou não ter, quem pode ter ou não ter, o
quanto um tem e o outros não tem.
Daí eu penso: mas tem anos que
minha vida é pautada pelo espiritual! Como me posicionar dessa forma frente a
essa dura realidade tão material? Como compreender minha liberdade cerceada? As
campanhas, os jingles, os marqueteiros – todos estão trabalhando com nossa
suposta “liberdade” de escolha.
Minha família é cristã católica,
nasci nesse berço. E compreendo que Cristo era pelo comum, mas meu pai
rejeitava o comunismo ao mesmo tempo que era tão cristão. Como isso é possível?
Como lido com tanta contradição na minha base de formação? Liberalismo,
comunismo ... e agora?
E aí, como sempre, busco meu
minuto de silêncio. Não oro, não peço. Só escuto, pois estou no silêncio e nele
estou intencionada.
E o silêncio me revela ...
E sigo meu caminho!
Brasília, 23 de outubro
de 2014.
05 de fevereiro de 2019
– encontro este texto de 2014. Merece publicação com revisão e adição de texto.
Não somos livres e
temos uma inteligência artificial nos coordenando. Escrevi o texto acima em tempos de eleição
que dividiam coxinhas e mortadelas. Hoje estamos novamente na dicotomia, só que
mais extremada ainda: os bons e os ruins: os eleitos de Deus e os eleitos do
Diabo. Definitivamente, livres não somos.