Minha razão

Olá!!
Criei esse espaço para postar subjetivações subjetivantes do sujeito que sou!
Filosofia, psicologia, educação.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Vamos falar sobre Denna

Falta pouco para terminar o livro O Nome do Vento.
De suas 647 páginas, já percorri 526.
E me deparo com uma construção do feminino muito linda. Tão linda que resolvi registrar.

     A mulher desse tempo e desse espaço, é dona de si e do seu corpo. Os homens, misteriosamente, as respeitam. E a aproximação do amor é furtiva, de forma implícita, com muito respeito de ambas as partes.
     Nesse tempo o sexo é uma coisa natural, espontânea e absurdamente inocente. Até agora, nesse percurso todo da história, não houve nenhum tipo de construção da relação sexo com violência, sexo com prazer extremo e a qualquer custo, sexo banalizado ou sexo amaldiçoado.
     E as mulheres, bem, as mulheres estão simbolizadas em Denna, e ela é o complemento do herói.
     Pensei hoje em Denna e compreendi que a mulher tem liberdade para decidir tudo o que deseja de seu próprio corpo. Se quer se entregar para muitos ou para um só. Se engravidar saberá o que fazer no momento certo, ou abortar ou deixar vingar. E, com certeza, se decidir abortar, ela deve dominar simpatias e receitas, que provoquem manejos e reações fisiológicas, para seguir numa biológica. Algo simples, sem melindres. A mulher é dona de si e do seu corpo.
     Enfim, parece que não existe na história um Deus que puna o mundo por causa de sexo. Deus está mesmo preocupado com coisas mais importantes a resolver em sua criação na crônica da vida de Kvothe. E Ele parece ser uma nítida construção da mistura entre o real e o imaginário. Contos que se contam de um tempo que não sabemos o percentual de real ou irreal nesse assunto.


Kvothe tem falado nos meus sonhos. Sua voz ecoa em narrativa quando começo a entrar no espaço hipnagógico do sono aproximado. Na porta que separa o cs do ics, escuto que uma história está sendo contada. E ao amanhecer vem uma compreensão do feminino extraordinária. Aquilo que sonho e acredito ser a relação entre os gêneros, entre aqueles que biologicamente se complementam para gerar a vida.
O conto entra em minha mente e de lá saem produções provocantes. Deixo uma aqui.
O papo dos gêneros e do feminino rende em nosso tempo. Rende muito ...

Falando ainda de:
ROTHFUSS, Patrick. O nome do vento. São Paulo: Arqueiro, 2009.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

A magia

O maior sonho que temos é sermos magos
!
Será que não somos por não o querer
Ou somos sem o saber
?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Registrando um estudo gráfico


Segue a reprodução de um estudo feito à lápis.

     Em um dia do segundo semestre de 2014, preparando aula para a disciplina de Psicologia Social II, tentando criar dinâmicas para meus alunos, tive um insight de um gráfico. Ao pensar costumo desenhar e reproduzi esses gráficos, que agora reproduzo em digital para guardar e compartilhar. 
     Eu estava tentando traduzir em imagens a ideia de que o conhecimento tem uma fonte de entrada. Pode ser na pessoa, no singular, que compartilha com um grupo. O grupo organizado pode ser via de entrada e daí vai compartilhar em grupo de grupos. Por fim, a energia organizada em singulares organizados em grupo, que se organizam em grupos leva ao complexo de um grupo de grupo de grupos. A pessoa busca, expõe ao grupo, que o processa e o constrói. E em cada singular existe a busca, um processamento próprio e uma construção. São dinâmicas que compartilham as instâncias do humano, a singular e a social. Uma pessoa auto-organizada ajuda que um grupo seja auto-organizado e ele ajuda que um grupo de grupos seja auto-organizado que, por sua vez, ajuda que um grupo de grupo de grupos seja auto-organizado
     E, nessa dinâmica é possível que se configurem diferenciadas estratégias de relação. Quando falo na organização singular-plural falo em construções de relação. Elas podem ser hierárquicas, que desenhei sem base, mas é possível pensá-la com base também. E as relações podem ser circulares e quadradas, sendo que essas formas de relações circulares e quadradas possuem forma de uma base.
     O circular aberto vira espiral, quando levado à terceira dimensão, aqui não representada graficamente nesse modelo bidimensional.
     Esses esquemas são ideias de um momento de produção que ficam aqui concretizadas.
     Em Psicologia Social pensamos a tensão dialógica entre sujeito e social. As formas possíveis (e impossíveis) das relações humanas. E acho que foi nesse sentido que pensei sobre o mandar e o obedecer. Quem manda e quem obedece? Como mandar e como obedecer?
     Já ouvi alguém falar que só sabe mandar quem sabe obedecer.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Dinâmica cs-ics no corpo físico

     Há um tempo atrás nosso grupo encontrou um outro grupo que foi fundado por uma mulher que dizia ter sido abduzida por uma nave extraterrestre e que, com os "amigos de lá", aprendeu um exercício físico que ajudaria a levar à conquista da auto-consciência.
     Os "amigos de lá" disseram a essa mulher que estamos com um tipo de atrofia no aparelho (macacão de carne, como diria Mário Baldani, ou escafandro, como diria Doro Ortiz) e que precisamos ativar certas partes de nosso cérebro para desatrofiá-las. Teria um defeito no corpo físico por consequência de um acidente radioativo com ondas solares.
     E o exercício que ela ensinou funciona mesmo. Em menos de dois meses tive resultado concreto do objetivo do exercício. E fiquei tão consciente, que preferi voltar logo de novo para o inconsciente, pois deu medo. Ou melhor, resolvi ficar mais semi-consciente mesmo, no equilíbrio harmônico entre os dois, cs-ics, pois aí transitamos mais humanos,
     Mas, comprovei um fato: podemos ampliar nosso potencial de consciência para atividades para além do corpo físico.
     Mesmo eu tendo abandonado esse grupo dessa mulher, - e também esse outro grupo que eu estava naquele remoto tempo,-  essa passagem da minha vida me traz algumas reflexões quando encontro agora algumas largadas notas escritas naquele tempo.
     Pelo que posso hoje interpretar, seria como se tivéssemos com um vírus (vamos chamá-lo inconsciência?), ou mesmo, talvez, uma atrofia no sistema neural, como sugere o "amigo de lá" de minha "amiga de cá". A esse "distúrbio ou distorção" devemos dedicar um antí-ídoto: doses frequentes ou esparsas de consciência. Afinal, potenciais não ativados precisam ser ativados, senão serão eternos potenciais. E isso passaria por "recapacitação da matéria", como diz o "amigo de lá". É no corpo físico que precisamos intencionalmente trabalhar.
     Cada um precisa se responsabilizar pela parte que lhe toca, ou seja, seu corpo físico e seu ambiente mais imediato. E vamos acreditar que quanto mais pessoas atuarem assim, inoculando consciência na inconsciência, mais o sistema como um todo será capaz de mudar e aí vamos conseguir reestruturar e reconfigurar a ecologia e recuperar a Terra, re-generando o que já foi corrompido por nós em excesso no planeta, por conta do tal vírus, da tal atrofia, do tal "desvio de função".
     Em respeito às pessoas, os amigos de lá e os amigos de cá ficarão sem nome mesmo, simplesmente representados como personagens de um passado. E tudo o que os envolve, fica para um papo mais presencial.
     No momento, a sugestão que fica é: não esquecer de trabalhar o corpo e ativar o potencial do sistema neural. Recapacitar a matéria. Aí é que se efetiva e valida a experiência cs-ics. Sem corpo, não rola.

Interpretação livre sobre um antigo manuscrito de exercício de compreensão, impresso num papel sem data.
Época desse curso e dessa aprendizagem: 1990

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016


Plastificar é tornar plástico.
Tô fora!
Prefiro ser plástica.

Estradas para locais seguros

"A maior faculdade que nossa mente possui é, talvez, a capacidade de lidar com a dor. O pensamento clássico nos ensina sobre as quatro portas da mente, e cada um cruza de acordo com sua necessidade.
     Primeiro, existe a porta do sono. O sono nos oferece uma retirada do mundo e de todo o sofrimento que há nele. Marca a passagem do tempo, dando-nos um distanciamento das coisas que nos magoaram. Quando uma pessoa é ferida, é comum ficar inconsciente. Do mesmo modo, quem ouve uma notícia dramática comumente tem uma vertigem ou desfalece. É a maneira que a mente se proteger da dor, cruzando a primeira porta.
     Segundo, existe a porta do esquecimento. Algumas feridas são profundas demais para cicatrizar, ou profundas demais para cicatrizar depressa. Além disso, muitas lembranças são simplesmente dolorosas e não há cura alguma a realizar. O provérbio "O tempo cura todas as feridas" é falso. O tempo cura a maioria das feridas. As demais ficam escondidas atrás dessa porta.
     Terceiro, existe a porta da loucura. Há momentos em que a mente recebe um golpe tão violento que se esconde atrás da insanidade. Ainda que isso não pareça benéfico, é. Há ocasiões em que a realidade não é nada além do pensar, e, para fugir desse pensar, a mente precisa deixá-la para trás.
     Por último, existe a porta da morte. O último recurso. Nada pode ferir-nos depois de morrermos, ou assim nos disseram."
ROTHFUSS, Patrick. O nome do vento. São Paulo: Arqueiro, 2009, p. 124.

     Minha filha pediu para eu ler um livro. Disse que ia ler nas férias. Passaram-se as férias e eu li todos os livros que estavam na minha lista pessoal de férias (coisas de professora). Li quase 500 páginas, li outras 300, li 200, li mais 550 páginas e ... bem, as férias foram acabando. "Mas você disse que ia ler!!" - Ok, vou ler! Mas, nossa, só um final de semana antes de começar os dias letivos. E ele tem mais de 600 páginas ... Ufa! Bem, estou lendo. E que coisa linda encontro. Então, registro para não mais perder de vista.
     Bom demais! Quatro portas de fuga da mente: sono, esquecimento, loucura e morte. Grata ao senhor Rothfuss e a minha filha com sua insistência adorável, pois resulta num post muito importante para a formação em psicologia. A dor está na raiz de muitas questões humanas, de muitas marcas. E a mente é sagaz em arrumar suas fugas, buscando estradas para lugares mais seguros. Ou in-seguros!

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Na página de uma agenda

A página é dia 06 de janeiro de 2009, terça-feira, segunda semana do ano.
As notas são daquelas que eu ia passando a limpo, de agenda em agenda. Não sei de que ano são ...
E não são ideias minhas. São ideias que encontrei pelo caminho, de autores que agora eu desconheço e que por alguma razão gostei e registrei para não perdê-las.
Mas, vendo o teor das notas, lembro do livro "A Nuvem do Não Saber", que pego agora na estante. E, ao pegar, constato a autoria do livro: Anônimo do século XIV. O livro foi publicado pela Vozes, de Petrópolis. Nossa edição é de 2007.

Assim, com esse espírito anônimo de um século remoto, digito meus escritos no papel, que não são de minha autoria, e que são, com certeza, de mais de um autor:

"Quem quiser experimentar a contemplação perfeita
 terá que perder a consciência do seu próprio ser."

" ... é mais difícil lidar com o conhecer do que com o não conhecer."

"- o comprimento da boca é sua eternidade;  
  - o seu amor é a sua largura;
  - o seu poder é a sua altura
  - e a sua sabedoria é a sua profundidade."

"Sê tu apenas a madeira e seja Ele o carpinteiro.
Sê tu apenas a casa e seja Ele o feitor que nela habita.
Enquanto isso torna-te cego e elimina todo o desejo de saber,
 que será mais um impedimento do que uma ajuda."

Fecho aspas!
Ele ... quem é Ele?
E o conhecimento? Que é?
Madeira e carpinteiro, material e motor, conteúdo e forma. A madeira é o conteúdo, continente e o carpinteiro faz a forma. Forma e função. Conteúdo, forma e função.
Qual a função?
O que faz funcionar?
Tantas questões.
Precisamos responder?

Como as notas lembraram o livro, o pego nesse momento para, com sua ajuda, fechar este post.
E abro em uma página qualquer ...
Sente só ...
Capítulo XXIII
"De como Deus intervém espiritualmente em favor daqueles que, por estarem ocupados em amá-Lo, não se defendem a si mesmos, nem provêem às suas próprias necessidades."
Página 84.

Vou folear esse capítulo, mas vejamos o que ele nos trouxe como via de finalização do post.
Gostei do si mesmo, pois me trouxe pela segunda vez o marcador do de si em si.
Gostei também, pois mantém aberta a questão do espelho. Do quanto cada um, em estar preocupado com o espelho, esquece de observar a madeira de que é feito. Madeira? Dizem que é barro. Do Húmus, que veio a ser Humano ...
Mas isso é papo para outro post.

Esse vai para o Miguel, que virou anjo.
Em seu dia terreno, de seus anos de viver.
Hoje, 88.
Quanta infinitude!

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Relatos de uma experiência sensorial

O tempo não é linear.
Segue um registro de um momento mais atual, mas importante para abrir um novo marcador, Pedagogia de si em si.
   
Uma das bases do processo de formação pelo qual passei, e por onde vou conduzindo meus alunos, é o da vivência concreta no/do método para alcançar aprendizagem, algo que vem pela transformação de/em si. Nessa vivência produzem-se sentidos, dos mais variados, e o todo vai caminhando no processo de se formar.
     Na disciplina de estágio supervisionado ao longo de 2015, busquei compreender mais a pedagogia de si em si. Como não posso registrar nada de minhas alunas, por conta da ética em pesquisa com seres humanos, vou colocar aqui o meu registro de uma experiência.
     O trabalho que duas alunas trouxeram consistia em percorrer um circuito sensorial com olhos vendados, sendo conduzido por uma pessoa guia, que se transformava a cada nova pessoa que entrava no circuito. Quem era conduzido, depois conduzia um outro. Sentimos os sentidos: tato, audição, paladar, olfato e percepção espacial, desprovidos de visão.
     Segue meu registro pessoal da vivência:

Os pés encontram algo estranho, um tanto aversivo. Mas continuar faz perceber que o aversivo se transforma. O seguir foi trabalhar a experiência de confiar. No outro que conduz e nos pés que sentem os limites do chão. Depois senti algo que eu particularmente necessitava nesse momento: carinho relaxante. As mãos recebem, mas o corpo inteiro sente, processa.
Ao final - confia - algo frio nas mãos, algo que desce bem pela garganta. Não abandonei a experiência.

Conduzir é cuidar.
O cuidar com pouco interferir na vivência do outro.


     Nesse relato pessoal aparece o registro da aprendizagem vivencial. Da vivência sensorial ao conceito de condução e cuidado. Conceitos vitais ao trabalho de um psicólogo e importantes de aparecer no processo de formação dos estudantes. E nos diálogos, onde cada uma compartilhou o que vivenciou, registramos de forma racional e emocional a vivência em cada sujeito concreto.  
     Assim, estimulando a coragem em conhecer o humano, vamos trazendo para a vivência em primeira pessoa o processo de construção. Com ética, respeito e dignidade, pois a aprender autêntico é aquele que vai ficar.
     E esse trabalho foi mestre, pois pegou mesmo pelo mais concreto que temos, nossa sensoreação neural do espaço/tempo.

Não tenho o dia em que foi feita essa experiência na turma de estágio,
mas foi em princípios/meados do segundo semestre de 2015. 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O dente do siso: um caso

     Sara vem ao nosso consultório por estar com seus quatro dentes do siso inclusos. Mas isso, para ela, não é um problema. Não incomoda, não dói, não faz diferença.
     Ela tem seus trinta anos, é independente financeiramente, mora em outra cidade que não a de seus pais, tem profissão em uma suposta vocação que lhe faz sentido e lhe faz sentir estável e segura. Mas, apesar dessa circunstância, seus sisos estão inclusos e sua eclosão está atrasada uns nove anos ou mais. Sua dentista fala que é bom tirá-los, que pode ocorrer reabsorção óssea, que suas presenças irão comprometer os outros dentes, a arcada e etc. Isso que esclareceu a sua dentista é mais ou menos o que fala a odontologia como ciência.
     Todavia Sara não quer isso. Se fosse para fazer cirurgia já teria feito há mais tempo. Ela não quer se submeter a procedimentos invasivos. Afinal, ter seus quatro sisos inclusos não é um problema para ela.
    Assim, é nessa condição que ela procura a BioCyber. Sua mãe tem cultura psicológica e filosófica e já ouviu falar de dentistas diferenciados e, bem, Sara resolve conferir a postura do dentista diferenciado por influência de sua mãe. Na primeira sessão com o odontólogo da clínica ela escuta sobre a proposta biológica da Biocibernética Bucal, concorda com alguns pontos e com outros não.
     Como metáfora usamos a ancoragem do dito popular que diz que o siso é o dente do juízo. E Sara tem juízo! É o dente da maturidade e ela é madura e independente de seus pais. "Se for algum conflito aí, será muito inconsciente", afirma.
    O odontólogo esclarece que a liberdade de decisão sobre seus sisos é dela própria, "Você pode deixá-los ou tirá-los. Eu, não tiraria", afirma ele. "Acredito que eles possuem sua função no todo, por algum motivo estão inclusos e podemos trabalhar por eles, ou seja, ganhar seu espaço, fazer estimulação, estabelecer os trabalhos de parceria sistêmica e deixar a função do siso acontecer."
     "Faz o seguinte, Sara, experimente uma sessão de terapia miorelaxante e nela procure entrar em contato com você mesma. Veja se descobre a sua solução.", sugeriu o odontólogo.
     E assim, Sara chega ao meu consultório.
     Quando a vi pela primeira vez, sentada na sala de espera, a senti um tipo fechado. Pouco sorriso, gestos contidos. A acolhi em minha sala, começamos a conversar e ela se abriu um pouco. Nessa conversa me coloca sua questão, que são seus sisos inclusos, que não lhe representa um problema.
     Expliquei-lhe como funciona o trabalho psico corporal, quais seus objetivos centrais e como ela deveria proceder sendo agente do trabalho. Fizemos uma sessão de 50 minutos. Ao final, quando ela retornou à vigília, lhe perguntei o que tinha sentido. Ela falou: "nada!"
     Nada? - perguntei eu. Mas você sente se relaxou? - Sim, relaxou. "Mas de que eu fosse descobrir, revelar, vir um insight? Isso, não senti nada!"
       Assim, o percurso que tomei primeiro foi auxiliá-la a constar que relaxou, que seu estado corporal mudou e que esse é o primeiro objetivo da terapia neuromuscular e que, então, tínhamos alcançado esse objetivo. Em diálogo, também trabalhamos que seu problema (ou a queixa que a trouxe à clínica) não é um problema, mas que poderia vir a ser no sentido de que a dentista terá que monitorá-los, ela vai ter que tirar radiografias periódicas e os dentes terão que se tornar como um bichinho de estimação que ela vai ter que adotar e cuidar cotidianamente.
    Como orientação clínica, reforcei a necessidade do uso dos hiperbolóides*, que já haviam sido recomendados e não haviam sido utilizados há um tempo atrás. Lembrei que isso representa uma ação importante ainda não concretizada, sendo este um exercício que estimula os músculos pela mastigação e, consequentemente, os ossos. (Aqui aparece o sentido dos dentes do siso inclusos aos 30 anos, a questão que não é problema e que passa pelo posicionamento de um sujeito adulto, algo que procuro trazer pela conversa indireta, não explícita. O sujeito da ação é um dos focos de meu trabalho).
     Assim, me despedi de Sara em nossa primeira sessão, mas permaneci com minhas reflexões sobre o dente do siso e sua simbologia na Biocibernética Bucal. O dente da maturidade, da máxima maturação biológica e fisiológica do corpo humano, o encerramento de um ciclo de desenvolvimento para a abertura de um outro, o momento da tomada de decisão. O siso do de-ciso! O siso representa a chegada na cosmovisão, é o pico, a chegada no clímax de um caminho, de um processo biológico, de lógica da vida.
     Penso que talvez Sara não tenha conseguido construir uma cosmovisão. Lembro que eu havia lhe falado antes da sessão da terapia miorrelaxante que não existe bola de cristal, pílula mágica ou o insight revelador instantâneo e que a compreensão de si é um processo, um caminho pessoal de vida. Na sessão não viu a si, não se percebeu, talvez nem soube se escutar, pois ficou ocupada esperando o insight e perdeu o momento concreto da sessão, sentindo seus efeitos no corpo físico, nossa maior concretude. Constatando isso, fico sem indícios de cosmovisão.
     E, como profissional, sei que não adianta des-estressar o sistema se a pessoa torna a cair na roda da vida e se re-tensionar continuamente, desligada de si e conduzida pelo piloto automático do viver, ainda que de uma "boa vida". É necessário conscientizar-se do programa configurado, seja ele qual for. Reprogramar o necessário, ou o suficiente, e caminhar com discernimento na balança da harmonia da vida. Um constante fluxo de tensão entre matéria e energia.
     Para Sara restaria a questão: "Por que isso para mim, nesse momento da minha vida?" - Ela está perto do quinto setênio tendo que tomar uma decisão relativa ao terceiro. A vida a convida a um desafio: ela necessita tomar uma decisão!
     Eu não sabia se a veria de novo, afinal, ela morava em outra cidade e estava em Brasília só para visitar a mãe. Então, fico com meus pensamentos reflexivos, agradecendo a ela a possibilidade dessas reflexões e da aprendizagem que seu caso estava me trazendo. Com a sua ajuda avalio que, se a chegada do siso está relaciona à capacidade de atingirmos uma cosmovisão e à maturação biológica com sua máxima possibilidade de propriocepção, seria provável que Sara, como sistema, não tenha atingido isso. E, talvez, ela tenha sentido "nada" na sessão de terapia corporal por ainda estar encapsulada e inclusa, tal qual seus sisos. (Por sorte naquele mesmo dia eu tinha atendido outra pessoa que, em uma primeira sessão, tinha sentido muito, confirmando que a questão não passa pela técnica, mas pelo sujeito).
     Um dia, para minha surpresa, Sara, retornou ao consultório. Queria saber de mim se havia garantia de que a técnica fosse indicada para o que ela esperava: movimentos dos tecidos e consequentemente, nos dentes. Bem, dando garantia de que a terapia realmente influencia no movimento dos tecidos moles e duros, ela fez mais uma e mais outra sessão enquanto esteve em Brasília e nossa última sessão foi um presente, pois entramos em três na sala: eu, Sara e um estagiário que aprendia sobre a terapia neuromuscular que pratico. No meio da sessão eu trouxe o tema para reflexão:
     "Veja bem, Sara, aqui nesse ambiente temos três casos distintos de siso. Eu, que os retirei cirurgicamente aos doze anos, após tratamento ortodôntico. Não pude vivenciar o momento coerente do processo, pois fui interpelada pela situação clínica da época. Minha relação com a maturidade foi marcada por um longo caminho de compreensão apartado da eclosão de meus sisos; você, que os tem inclusos ainda hoje ao 30 e poucos anos e está precisando pensar sobre isso, sobre essa situação biológica. A vida te trouxe a esse aqui e agora; e João, que tem 18 anos e os tem nascendo, eclodindo exatamente neste momento de vida. Seus sisos resolveram eclodir no tempo certo e nós vemos João caminhando para a sua maturidade, aprendendo aqui conosco uma função social. João não está no mundo nem como o eu e nem como você. Que tipo de dinâmica terá ele com sua maturação? Perceba que jogo interessante fazemos nós três aqui e agora com esses diferentes espelhos!" Não tenho completa informação do efeito concreto da ação, mas senti que Sara percebeu algo nesse momento.
       Sara foi embora para sua casa, sua vida em outra cidade. Levou consigo os hiperbolóides e a promessa de estimular os dentes a eclodirem. Decidiu não fazer a cirurgia invasiva e vai adotar o cuidado monitorado. Levou junto a imagem de João, um jovem que vivia o auge da situação, rumando para a sua cosmovisão, coisas que ela deverá descobrir por si mesma, assim como eu tive que descobrir e construir por mim mesma.
     Para mim, em meu processo reflexivo, sinto que faz muito sentido a relação entre o que cada um vive e a sua própria fisiologia. Tudo está cheio de símbolos e decifrar esses códigos e entender os símbolos é que seria o "grande barato" de estar vivo. Sara, talvez, não tivesse ainda visão de todo. Mas depois de nosso encontro, com certeza, tem um pouco mais.

Um caso de 2008 da BioCyber - Brasília
Editado em fevereiro de 2016.

* Hiperbolóides são estimuladores musculares via mastigação de uma peça pequena (que possui diferentes tamanhos, para diferentes bocas), feita de material favorável, tipo um silicone.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Gênese

Quais nossas gêneses?

A COSMO gênese
A FILO gênese
A ONTO gênese
São as vindas da sabedoria. E chegam pelo GEN-ético.

Existe um movimento, um caminhar.
O AMOR necessita que o HUMANO se re-integre em UNIVERSO, conhecendo o INVERSO  e quebrando as armadilhas do DI-VERSO.
De verso em verso, duo verso.

A Biocibernética pode ajudar no percurso de decodificação ao utilizar como via o DNA, pois dele busca o processo co-incidente do desenvolvimento na pessoa e a erupção dos dentes em aproximados 21 anos.
Do ZERO ao 21, 42, 84 ...

Notas, sem data, de um dia em que eu buscava compreender o programa

O ideal e o real

O ideal é o possível.
Na hora que o materializamos, o validamos.
O ideal não é válido, só concretizado.
O que o valida é a experiência da vivência concreta.
Só o sujeito tem esse potencial.
E quando o coletiviza, sai da frente ...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Em 2012, lancei o livro A Biocibernética Bucal em verso e prosa.

Falo dele aqui hoje, pois vou inserir nesse blog alguns posts com o marcador "Biocibernética Bucal".
Não é meu campo de ação, mas é um campo parceiro.
A Biocibernética Bucal (BCB) entrou em minha vida no ano de 1988 para não mais sair.
Fiz cursos, capacitações, participei ativamente do GEBICI, um de seus grupos de estudos, e até me converti numa professora de BCB. O ser professora de BCB foi o que me levou ao mestrado e ao doutorado, fazendo com que eu retornasse mais ao meu foco (Psicologia e Educação), mas sem abandonar os ensinamentos de meu professor Mário Baldani.
Hoje em dia, integro tudo numa só unidade.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

O Eu e o espelho

As distorções na reflexão da imagem: licença poética de carnaval.

     O espelho não é só um instrumento de revelação de uma imagem. Ele é também um produtor de distorções. Pode aumentar, pode diminuir, pode alongar, estreitar, ofuscar e mentir sobre nossa imagem.
     Alguns pensadores do psiquismo usam a metáfora do espelho para elaborar compreensões sobre o processo individual e o processo social de subjetivação. Assim, tem os que falam em reflexão e os que falam em refração na relação entre o um e o outro.
     Na perspectiva que assumo, onde não há separação psíquica entre o um e o outro, coloca-se a metáfora do espelho num lugar de não-ser. O espelho não há.
     Mas como, se há o um e o outro? Há o Eu e a mãe, o Eu e a família, o Eu e o grupo, o Eu e a sociedade, o Eu e o sistema. Como o espelho não seria?
     Assim seria, nas múltiplas dimensões de uma coisa só.
     Solipsismo? Só existe o Eu e nada mais?
     Não, Para o Eu existir, existe o Outro. E se Outro não é; o Eu também não é.
     É uma unidade na dualidade.
     Da dualidade à trindade, pois é Eu - Outro, sendo o - a relação.
  As codificações, ao serem decodificadas, revelam linguagens antes inacessíveis que, quando compreendidas, passam a ser acessadas. Muitas foram as formas de tentar elaborar a relação eu-outro. E, se for a do espelho, considere que ele causa distorções.

Das notas do tempo que quero imprimir hoje trago:
- Reflexões sem data.

Diferença entre aumentar e melhorar uma experiência.
     Mais interesse ou melhor interesse -
     Aumentar o interesse
     Melhorar o interesse
     Um fala de quantidade
     O outro fala de qualidade

Quanto vale uma prova?
     - Não vale um número. É somente uma bússola para o professor.
O que significa passar de ano?
     - Significa que o aluno fez, 10, 11 ou 12 anos.
O que significa conhecimento?
     - Um potencial vivo que pode ser adquirido, estimulado. E que transforma nossas vidas.