Minha razão

Olá!!
Criei esse espaço para postar subjetivações subjetivantes do sujeito que sou!
Filosofia, psicologia, educação.

domingo, 27 de dezembro de 2020

Ciclo e pandemia: viva 2021!

Muito difícil falar sem ser ou sentir-se prepotente. O desejo é mesmo silenciar. Mas a vida nos cobra posturas. Uma dessas posturas é falar algo em viradas de anos. Desejar boas festas, intencionar saúde, paz, mudanças. Qual postura assumir nesse momento para expressar esse coletivo?

Algumas posturas identificamos bem, outras nos escapam e, entre uma postura e outra, vamos nos sucedendo no tempo e no espaço. Os ciclos artificiais fomos nós que marcamos e começamos a marcá-los tem uns 30 mil anos.  Ainda hoje seguimos marcando uns e outros ciclos. Ciclar é movimentar.

O ciclo de agora é de vida em pandemia com sinais fortes de entropia social e política. Pensamentos obscuros emergem nos horizontes de eventos. Sei que desejar algo não irá mudar algumas coisas da postura social e cultural que nesse momento histórico expressamos, por isso tem momentos que prefiro mesmo calar nesse final de ano.

Mas não vou me furtar de dizer que ainda existo e que seguirei na minha labuta, buscando estabilizar-me na consciência, conhecendo cada vez mais o tamanho e o poder do inconsciente. E confirmo aos amigos e parceiros de viagem que esse trabalho feito como disciplina, foco, persistência produz resultados palpáveis. De minha vivência testifico!

E te convido para teu testemunho em tua busca de estabilização na consciência. Meu trabalho é isso!

Vou virar 2021 atendendo online, viu? Tá bom, produtivo e efetivo.

Que venha mais essa virada de ano e que a consciência chegue aí também!

De ciclo em ciclo vou me manifestando por aqui.

sábado, 5 de dezembro de 2020

Problemas não problemas

Prefiro ser o tipo de pessoa que afirma "tenho problemas".

Afirmar "não tenho problemas" implica que eu seja cheia de "soluções". 

Se o mundo é dialético e em movimento, quem tem soluções, busca problemas.

Por outro lado, se afirmo "tenho problemas", a própria dialética me conduz à busca de soluções.

Dessa forma, vislumbro duas possibilidades ao humano:

  - Eu tenho problemas e não os tenho.

  - Eu não tenho problemas, portanto, os tenho.

  Qual irás te identificar?

Só mais uma divagação do de-vagar que se vai ao longe!

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Notas reflexivas

Encontrar pequenas notas e tentar compreender o que elas me ensinavam. Coisas do tipo:

Autopoético como algo que produz a si a partir de uma lógica interna.

Emergente no sentido que aparece no todo não sendo propriedade que existia nas partes ou nos componentes individuais.

Auto-organização e emergência - auto-manutenção e auto-reprodução - de baixo para cima e das partes para o todo; de cima para baixo e do todo para as partes.

Mente e consciência são processos e não coisas.

O processo de cognição é o processo da vida.

Se não for integrado não rola, então é preciso trabalharmo-nos como uma unidade integrada; uma unidade complexa e contraditória. Algo difícil de assimilar por mentes tão cartesianamente formadas, mas algo possível de compreender pela vivência de uma pedagogia da unidade em si mesmo. Integrando o conhecedor e o conhecimento no curso da ação do aprender e desenvolver. São os dois lados de uma moeda

A comunicação é a coordenação de comportamentos entre organismos vivos. A linguagem é quando chega num nível da abstração tal que possibilita a comunicação simbólica. O símbolo é como uma ferramenta efetiva para a coordenação mútua de ações.

Ok! Eu me lembro de quando escrevi essa notas. Eu estava estudando Francisco Varela. Só não lembro quando e de qual texto parti.

 

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Um rio que se abre e flui

O que me impede de fluir?, pergunta Ana Michaela na roda de trabalho sobre si.
Vamos observar nossa luta, nossas relações de poder. Vamos expressar o dominador e o dominado.
E força no movimento!!

Então, colocando força no movimento, vejo que não aguento mais essa luta dual e aprisionante do dominador e do dominado, e me movimento para a liberdade. E me liberto e danço livre, de um polo a outro polo e, a partir dai, encontro meu centro.

Finaliza a vivência e vamos ao grupo de quatro compartilhar. E lá no grupo encontro a dor. A primeira parceira traz a dor que o corpo sente por um vírus não totalmente debelado. As outras duas trazem as dores do corpo maduro, aquele que de tanto andar sobre a terra já carrega algumas dores. E eu, então, conecto com dores no corpo e, conversando sobre dor, dominador e dominado, chegamos ao seguinte resumo grupal.

A dor.
A dor paralisa.
Mas eu tenho o convite ao movimento.
Então, venço a dor e movimento meu corpo.
O corpo domina a dor.
O movimento liberta a dor.
No jogo de poder do dominador e do dominado.
O movimento domina a dor e liberta a dor.
Dominador, libertador.

Esse post veio abrir o marcardor Río Abierto no meu blog. 
O rio aberto que tudo abre, que tudo leva, que tudo transforma.
Ao transformar abre nossos espaços.
Permite que, dando passos, eu abra espaços.
Eu já pude trazer aqui para o blog o Rio Aberto, mas não explicitamente.
O fato é que esse ano resolvi voltar às rodas de movimento com mais frequência e me vejo mobilizada nesse todo desse grande grupo, que agora está conseguindo se encontrar mais frequentemente, pois a pandemia nos aproximou. Alegria de estar e ser em um grupo forte e transformador do ser. Alegria de poder evoluir junto com um Río.

Somos os mesmos. Estamos na mesma. Ainda que sejamos absolutamente singulares, estamos nesse grande Todo da Vida na Terra.
E estamos aqui em vida para nos ajudarmos mutuamente.
O tempo do guru passou e agora o mestre está dissolvido nas escolas, que serão nossas mestras e mestras de nossos descendentes.
Os últimos gurus estão velhinhos e logo irão passar, mas as escolas que construíram no tempo oportuno não passarão. E nós seremos os passarinhos que iremos flutuar na vida e bebericar as gotas desses saberes que ficaram todos disponíveis após a passagem dos Mestres pela vida.
Nossos mestres nos deixaram as escolas e elas se fazem com grupos. Grupos são a unidade na diversidade. Nunca seremos homogêneos, nem devemos. Somos a integração da diversidade necessária à unidade. E somos aqueles que guardarão a responsabilidade de manter o saber vivo, respeitando suas raízes profundas e suas ramagens que mudam em cada estação.

Saúdo esse Río, esse rio, essa abertura, esse fluxo.
Lugar onde aprendi a arrumar minha casa para ganhar espaços.
Alinhar meus saberes para ajudar, ajudando-me.

Muito amor, Grande Rio!
Muito amor, Maria Adela Palcos! Gratidão por seu saber, sua prática e sua canalização.
Muito amor, Susana Milderman! Sei que também preciso te reverenciar como mestra!
Muito amor, Rio Aberto brasileiro. Sinto-me parte de sua raiz e força!
Sou grata, muito grata!


sábado, 25 de abril de 2020

Uma carta ao Brasil!

       Brasil, que dor te ver!
       Brasil, que corte na alma te ver assim hoje como estás!
       Que pena te ver dilacerado, entregue aos bandidos. Que triste ver teu samba, tua ginga, tua graça sendo oprimidos por tamanha força!
       Lamento que tua história esteja marcada pela apropriação indevida. Desejo, no mais profundo do meu coração, que essa fenda possa ser suturada e cicatrizada. Que a relação entre senhor e escravo possa vir a ser nada mais que uma cicatriz pedagógica. Que as almas de bom senso emerjam todas de braços dados e façam suas correntes pelo bem e para o bem de todos. Que a irmandade seja muito maior que nossas rivalidades aqui em solo brasileiro.
       Não quero ser rica, Brasil!
       Quero só viver em paz e bem e que todos os brasileiros e acolhidos ao nosso solo possam também!
       Pois tu já és o mais rico dos territórios e só habitar tuas terras benditas já é a maior de todas as riquezas materiais do mundo.
      Que a divisão extremada aqui acabe, Brasil! Desejo que os humanos despertem de seu sonho, te libertem do cativeiro e te permitam ser livre, leve, lindo!
       Que teus algozes te libertem, Brasil! Quero estar aqui para ver e aplaudir.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Espiritualidade

Recebo alguns questionamentos sobre a espiritualidade.
Como cuidar da relação da psicologia com a espiritualidade?
São antagônicos? Excluem-se mutuamente?
Se psicologia é ciência, como dialogar com a espiritualidade?

A forma que temos para responder essas questões é estudar as vias pelas quais a ciência está dialogando com a espiritualidade e vários são os autores que procuram esse diálogo. Quando isso acontece, ou seja, quando as respostas da ciência alcançam os lugares de difícil explicação racional,  chegamos na compreensão de que, enquanto humanos, temos duas dimensões importantes: a razão e a consciência. Não são a mesma coisa e precisam ser colocadas cada uma em seu lugar.

Deus, tal como pregado nos quatro cantos, habita na dimensão da razão. E ele existe tão forte, pois na dimensão da razão encontramos inevitavelmente o seu oposto complementar: a des-razão ou i-razão. Deus fala a partir de nossa irracionalidade, principalmente se Ele vem de uma palavra. A palavra escrita é do humano, não de Deus. Quem aceita que Deus está na palavra perde boa parte Dele. E muitos apelam à nossa capacidade irracional para manipular e subjugar, para dominar e sugar energia de consciência, uma vez que estando na irracionalidade fica ainda mais difícil alcançar a consciência.

Quando falamos em consciência precisamos de uma dimensão chamada VIVÊNCIA. A consciência é algo que emerge a partir da vivência individual, pessoal e intransferível, da relação de si mesmo com o inominado. Quando a consciência chega, as separações acabam e começo, inclusive, a desconstruir algumas verdades absolutas que aprendi ao longo de meu caminho de animal racional.

Quem gosta de separar e organizar é a razão que tem como instrumento um cérebro racionalista. Quando esse cérebro trabalha ele cria duas categorias básicas: o eu e o outro. Isso é uma armadilha, pois isso nos separa e ficamos aptos a colocar nosso canal de conexão no outro, não no Si mesmo. Quando esse cérebro analisa ele divide e aí cria espaços próprios verdadeiros e espaços externos não verdadeiros.

Quando alguém se sente no direito de quebrar a imagem que um outro adora é sinal de que ele ou ela ainda está na dimensão da razão, não da consciência. Aliás, quem chegou na consciência não adora mais nenhum objeto, sendo "objeto" aquilo que na base chamamos de "O Outro". Se existe um objeto externo superestimado existe também um Eu interno subestimado ou desvalorizado.

Fico imensamente preocupada com o Brasil que temos hoje. Vivemos a iminência de uma guerra religiosa, junto com uma guerra biológica, uma guerra política e uma guerra econômica. Encontrei hoje nas redes sociais cenas de pessoas brigando com outros pelos seus símbolos e pessoas associando o "juízo final" com desrespeito aos símbolos dos outros. Isso é indicador de que estamos ainda numa era de obscuridade, não numa era de consciência. A agressão ao caminho do Outro é sinal de Era da razão, pois essa agressão é irracional. Como no nosso país o desrespeito é legítimo, muitas pessoas ainda caem nas armadilhas da razão e ficam presos em esferas limitadas e limitantes do humano.

Teillhard de Chardin, que admiro muito e recomendo a leitura de O Fenômeno Humano, sugere que a vida avança em seus ciclos e que seu objetivo é chegar na Noosfera, ou seja, a esfera da consciência. Enquanto estivermos na Era da razão vamos defender o que acreditamos, o que pensamos, o que é "uma verdade própria", diferente da "do outro". Na Era da razão não facilitamos o avançar da humanidade na construção da Noosfera.

Antes de defender um ponto de vista pergunte-se: onde habita minha consciência? Se encontrar essa resposta não irá operar mais sob as linhas da separação, pois nesse lugar somos todos iguais, somos os mesmos, estamos no mesmo barco e habitamos a mesma nave-mãe: a Terra. Quem alcançou a Era da consciência não precisa mais de crenças, pois tem a certeza de que é "vida" e que habita um planeta comum com a humanidade e com todas as outras espécies vivas.

Então, espiritualidade é isso. É compreender que múltiplas são as leituras, mas uma só é a verdade. Se ainda opero por separação e exclusão (hilotropia, ou o movimento à máxima individualização), ainda estou na Era da Razão. Se consigo compreender o Todo do qual sou só uma pequena parte, estou na Era da Consciência e já sou uma contribuinte à Noosfera. Já sigo em holotropia (ou em movimento ao Todo, tal como propõe S. Groff).

Nesse tema da espiritualidade a psicologia pode ajudar trabalhando a compreensão dessas dimensões do humano (racional, irracional, consciente, inconsciente, vital, emocional, social, cultural, histórico), contextualizando e decifrando os códigos. A psicologia pode ajudar a quebrar as amarras que ainda nos deixam acorrentados nas prisões da razão e nos diques que impedem as emoções. No meu entender, espiritualidade é nos sabermos ancestrais e de futuro, vivendo aqui e agora a maravilha da lógica da vida que nos fornece o Planeta Terra.

A isso chamamos Ecologia, ou seja, a capacidade de compreender a unidade de todas as coisas e a inevitável situação de ser "vivo e frágil". Nossa fortaleza está em compreender nossa fragilidade de ser vivente. Daí a necessidade do movimento de cooperação à consolidação da Noosfera. O Planeta desenvolveu litosfera, atmosfera, biosfera e agora precisa desenvolver noosfera. Só essa esfera poderá ajudar nossa espécie e nosso planeta vivo.

Assim, precisamos cuidar com a noção de "Deus". Talvez só exista uma Deusa, na verdade: a Terra. Mãe da qual somos filhas e filhos. Imaginar que Deus está no céu produz separação entre Eu e a Terra. Talvez a criação desse Deus externo seja fruto de um cérebro racional alimentado pelo medo de um cérebro límbico. Pensem sobre isso ...

sábado, 28 de março de 2020

Texto ao jovem psicoterapeuta

Esse texto foi redigido para meus alunos de supervisão de estágio na clínica. E é um texto que fala  da forma como trabalho com meus pacientes. Dentre as muitas formas de compreender a ação profissional em psicoterapia, segue a que mais atende minha visão de humano, de desenvolvimento e de saúde. Eu defendo que nosso trabalho começa por ...

Confiar na capacidade auto-reguladora do corpo e do Eu.

E segue por conduzir o paciente aos espaço que ele tem de resolução e que estão sem acesso por conta dos sintomas ou bloqueios.

Eu, como terapeuta, pouco faço. O paciente sabe. Eu só preciso manter sua atenção pelo caminho que ele próprio precisa caminhar. Eu o levo para o restaurante, mas ele escolhe o que irá comer. O paciente possui suas pautas e eu preciso aprender sobre elas.

Buscar ao máximo trazer para o aqui e agora, mais do que às dinâmicas do passado (analíticas) e introduzir a noção de futuro. A vida se vive do hoje para o amanhã e não temos vias de mudar o passado, só sua interpretação e sentido/significação. Assim, não fixar-se demais no problema e sim orientar-se à sua solução.

Existe um princípio que defende que a natureza sabe tratar a si mesma. O corpo sabe o caminho de sua cura, assim também é com a mente subjetiva.

O que eu tenho para trabalhar são os meus sentidos (vejo, escuto, cheiro, toco, provo e percebo). Portanto, uso esse aparato humano e  observo. Não analiso e não julgo. Somente constato pela observação e percepção. Junto a isso agrego o saber que tenho de mim mesma sobre minhas relações com as emoções, tais como o medo, a dor, a alegria, a raiva, o asco, a serenidade, o êxtase. 

Quem faz o trabalho é o paciente. Eu o amparo. Eu ajudo na construção de um "clima".

As pautas se modificam, são passíveis de mudança. E posso quebrar o mito do "ir ao trauma". O sintoma pode até mesmo se converter numa solução e posso ajudar a criar problemas de mais fácil resolução, que aos poucos ajudam na resolução de problemas mais difíceis. Eu preciso fortalecer onde a pessoa é forte, portanto, resistências podem ajudar quando bem trabalhadas.

E eu preciso falar com o paciente a partir de sua própria linguagem e não a partir de teorias ou técnicas. Preciso aprender a respeitar a organização do paciente e não querer ajustá-lo às organizações universais. Eu preciso ajudar que ele compreenda a partir de si mesmo e que se transforme a partir de si mesmo.

Ação, sentimento, pensamento caminham juntos.

Existem duas possibilidades na estratégia terapêutica: separar ou integrar. Separar ou vincular. Podemos usar as duas, conforme as circunstâncias de cada processo.

quarta-feira, 25 de março de 2020

Os 14 subsistemas de A. R. Müller

      Eu já fiz um vídeo sobre os 14 subsistemas sociais de Müller ...



... mas é importante também esclarecer teoricamente o que é cada um desses subsistemas, exercício que faço dentro de uma livre interpretação minha, baseada no tudo o que pude ler de Waldemar De Gregori, professor de sociologia daqui de Brasília.

A preocupação dos estruturalistas da antropologia na época de Müller era chegar à organização social básica comum a todas as sociedades, desde as menores até as maiores, das mais urbanizadas às mais rurais ou tribais. E Müller, orientado por Radclif-Brown, chegou a esses 14 núcleos por onde uma sociedade consegue se organizar como um todo. Mesmo sendo categorias estruturalistas, podemos levá-las à uma compreensão de organização de Todo e de Ecologia Humana, uma vez que podem ser compreendidas como partes que só fazem sentido quando são relacionadas ao todo que as mesmas compõem. São eles:

S1 - Parentesco - Cada pessoa tem um grupo próximo ao qual se referencia. Nesse grupo desenvolvemos alguns papéis, tipo mãe ou pai, filha ou filho, tia ou tio, sobrinha ou sobrinho, avó ou avô, dentre tantos outros. Esses papéis ajudam a configurar a nossa personalidade e também nos instigam a pensar valores relacionados às etnias, aos gêneros, à família, à moral, à sexualidade. Esse subsistema nos organiza em crenças, atitudes, potenciais. Muitas vezes nos compõem em espaços aprisionados que desafiam nossa força de libertação e transformação. É o primeiro subsistema por estar na base da formação humana, ou seja, qualquer pessoa social viva nasceu de um outro ser humano que foi fecundado por um terceiro, Qualquer pessoa viva é uma unidade que precisa ao menos de mais dois para existir. Sem três (eu, minha matriz e meu progenitor) não há (ainda) vida humana.

S2 - Saúde - Cada ser humano social vivo habita um corpo fisiológico coordenado por uma biológica, ou lógica de vida. Esse subsistema coloca nas sociedades aquele personagem responsável por cuidar disso, seja um pajé, um xamã ou mesmo um médico, enfermeiro, fisioterapeuta, psicólogo e outros muitos profissionais da saúde. Por aqui passam os aspectos de higiene e as políticas de manutenção da vida. Nesse subsistema entram todas as medidas preventivas e curativas que as sociedades criaram ao longo do tempo. Nesse subsistema estão os trabalho de consciência da vida em sua plenitude e também em sua finitude. Trabalhar a morte e todo o medo vinculado a ela fazem parte deste subsistema. Aqui entram também os sentidos de libertação e transformação social, dando um caráter biológico ao viver e morrer.

S3 - Manutenção - Todos os grupos humanos se organizam em torno da sobrevivência de cada um e de todos e esse subsistema trabalha isso: alimentar para viver e compartilhar aquilo que nos sustenta. Aqui cada sociedade desenvolve a melhor estratégia de manutenção pessoal e coletiva. Como produzir, o que produzir de acordo com a geografia, como armazenar, como distribuir e cooperar para a sobrevivência de todos. Aqui são trabalhados os excessos e harmonias. Sociedades consumistas derivam de uma desregulação desse subsistema, pois estimulam o consumir mais por prazer do que por necessidade, comprometendo nossa lógica de vida ou biologia. Comer, beber, dormir, vestir são alguns dos aspectos que compõem esse subsistema.

S4 - Lealdade - Nossa capacidade afetiva nos fez seres gregários. Nesse subsistema entram todos os códigos criados a partir dessa capacidade. As rodas de celebração ou os clubes das grandes cidades são expressões desse subsistema. O sentido de pertencer, as agremiações, o desenvolvimento da capacidade afetiva verbal ou não verbal, saber dar e também saber receber afeto fazem parte desse subsistema social e cultural. Os partidos políticos que traduzem nossas visões de mundo, as cooperativas que nos ajudam a distribuir nossas produções, saber distinguir quem são os amigos e que são os inimigos, enfim, tudo que esteja relacionado a nossa capacidade de associação e construção de grupos cabe dentro desse subsistema e cada sociedade possui as expressões do mesmo.

S5 - Lazer - Toda sociedade vive de trabalho e lazer. Uma sociedade que é só trabalho, sem os momentos de lazer, é uma sociedade humanamente desregulada. Nesse sentido, cada agrupamento constrói suas possibilidades de lazer. Descansar no ócio, passear, apreciar a natureza, ler um bom livro ou assistir um bom filme, desenvolver os hobbies, cuidar de si e do outro, contar "causos" nas rodas, rir de si  e sentir prazer em viver, estar contente e produzir contentamento nos demais são expressões desse subsistema social. Nossa sociedade criou as horas de trabalho e nos fornece os períodos de férias e os finais de semana, que são os momentos dedicados ao lazer. Sem lazer não há vida saudável. Balancear o trabalho e o descanso é fundamental para a manifestação de uma sociedade saudável. Todos nós temos direito ao trabalho e ao descanso.

S6 - Viário - Esse subsistema ressalta a importância do ir e vir e do comunicar. Desde os tempos mais remotos os seres humanos criaram as suas formas de comunicação para facilitar a sobrevivência e a parceria. Quando inventou a roda, nossa espécie facilitou o encurtamento das distâncias. Isso foi refinado ao ponto de termos hoje nossa rede mundial de computadores, onde estamos todos interconectados em tempo real sem precisarmos sair de nossas casas. Nesse sentido, esse subsistema fala de uma de nossas características mais marcantes: o gostar de nos aproximar. Ainda que existam teorias que defendam que o ser humano é um animal por natureza competitivo, esse subsistema e tudo o que pôde ser desenvolvido dentro dele indica o quanto somos cooperativos e precisamos uns dos outros. Criamos meios de transporte cada vez mais eficientes pela terra, pelo mar ou pelo ar e fizemos nossas mensagens viajar à velocidade da luz. Aprendemos as línguas estrangeiras para melhor nos comunicarmos no planeta e temos como um dos programas favoritos da maioria das pessoas o conhecer outras nações, outras culturas, outros saberes. Somos mestres nas construções e compartilhamentos de informações.

S7 - Educação - Não seríamos o que somos se uns não educassem os outros. Aquilo que aprendi passo em frente aos pequenos que chegam. Aquilo que alguém criou passa a ser conteúdo ou prática transmitida aos outros. Produzimos informações e a organização delas em campos maiores é feita pelas vias da educação. Sistematizar e transmitir informação faz com que nos ternemos sábios. É por essa razão que só a informação não basta. Ela precisa ser aperfeiçoada e transmitida, e isso cabe a este subsistema. Assim, com o tempo fizemos escolas, faculdades, instituições de qualificação e aperfeiçoamento. Não é possível afirmar que "estamos prontos e não temos mais nada a aprender". A vida é uma constante troca de experiências e de novas aprendizagens. Nosso cérebro é plástico e está sempre em transformação. Mesmo que eu esteja plenamente capacitada em uma área preciso sempre estar em reciclagem. Nascemos inacabados e assim morreremos.

S8 - Patrimonial - Esse subsistema é controvertido, pois fala de patrimônio e isso pode abrir brechas para a defesa da propriedade privada. Na verdade a vida é um patrimônio de todos e de qualquer um, assim como a terra para nos sustentar enquanto seres vivos. Esse subsistema destaca a consciência do "piso mínimo e do teto máximo", ou seja, todos tem direito ao mínimo necessário para viver em termos de abrigo, alimento, lazer, ar puro, água potável e devem também respeitar o máximo de forma a não se tornar escravo do material. A humanidade criou as vias de troca e isso culminou naquilo que chamamos "economia". Atualmente o patrimônio está vinculado ao valor monetário do capital, mas ele não pode ficar preso a isso. É "patrimônio" todos aqueles bens culturais e sociais que são imateriais. Se pensarmos que todas as comunidades possuem esse subsistema, de acordo com a tese de Müller, temos que considerar que o patrimônio é aquilo que é comum também, pois em certas tribos existe a compreensão que o que é da Terra não pode ser apropriado por uma pessoa exclusivamente. Aqui a sociedade capitalista tem muito a aprender com outras sociedades para poder avançar mais na direção de uma sociedade mais equânime e justa.

S9 - Produção - Esse subsistema envolve a dimensão da criação, da produção de bens e arte e todos os tipos de trabalho que existem, dos mais concretos aos mais abstratos. Toda sociedade se organiza em torno dos trabalhos e das especializações. Esse subsistema é o que atua quando um jovem escolhe uma carreira e aprimoramos uma profissão, que é um lugar que eu ocupo na sociedade. Esse subsistema nos lembra que todas as práticas profissionais são dignas e necessárias ao sistema macro social e, portanto, todas devem ser valorizadas e dignificadas.  Nesse subsistema habita a lembrança de que não basta ser um "bom empresário", sendo também fundamental ser um "empresário bom". Como espécia viva e cultural produzimos conhecimento, práticas, arte, saberes. São muitos e variados os campos de produtividade e criatividade. Todas as nossas manifestações de criatividade plástica estão representados nesse subsistema. O ser humano produz, é criador.

S10 - Religioso - O medo do desconhecido nos fez criar as divindades. No começo elas eram poderosas e ameaçadoras, depois passaram a ser a fonte da certeza de uma vida mais digna após a morte. Um dos subsistemas mais controvertidos é o religioso, pois ele não é da dimensão da razão e, todavia, é por ela apropriado. Quando FÉ passa a ser razão entram em campo as guerras religiosas. O coerente é saber respeitar as múltiplas leituras de religiosidade, pois cada sociedade e cada cultura irá forjar a sua. O que é comum a todas as sociedade é a necessidade de achar uma via de esclarecimento ao imponderável. É por essa razão que as primeiras formas divinas estavam diretamente associadas às expressões da natureza: o trovão, o arco-íris, a força da terra e a força da água, a força do fogo e a força do vento. Há aqueles que veneram o Deus antropomórfico e há aqueles que defendem que a experiência divina é a conquista da dissolução de si enquanto ser antropomórfico. A religiosidade e a busca constante pelo diálogo com o invisível e seus poderes é algo que acontece em todos os agrupamentos humanos, dos mais arcaicos aos mais atuais.

S11 - Segurança - Quando encontramos um território com terra boa e água corrente acampamos aí para descansar a caravana. Segurança está relacionado à certeza e à garantia de sobrevivência. Com o passar do tempo fizemos nossos exércitos e desenvolvemos armas cada vez mais potentes. Tudo para garantir essa sensação de "segurança". Dessa forma, todas as organizações humanas possuem seus guerreiros. Todavia esse arquétipo tornou-se também uma categoria controvertida. Na verdade a segurança nasce do medo, sentimento básico que nos garante a sobrevivência e a chance da vida perpetuar a si mesma. O que precisamos é a paz como certeza de harmonia entre seres vivos. Mas a natureza é implacável e muito mais poderosa que nós, enquanto espécie. Daí a sensação de estarmos sempre numa incerteza geradora de insegurança. O dia em que compreendermos bem esse subsistema conseguiremos um mundo mais unitário, constituindo cada um de nós em um cidadão planetário. Isso tem relação com a capacidade de compreender o "medo" e o "inimigo". Uma base fundamental de nossa psique.

S12 - Político - Grandes Todos precisam de organização. Essa organização funciona por retro-alimentação, vinda de nossos próprios recursos. Esse subsistema caracteriza, então, a capacidade do Todo em organizar-se. Assim nós criamos lugares sociais de gestores, líderes, organizadores, planejadores, administradores. Esse é o sentido de política, que é o lugar que pode ser ocupado por aqueles que conseguem ter visão de todo e conseguem nos organizar como o Todo que somos. É o mais perigoso dos subsistemas, pois lida direto com o poder. Esse poder pode desviar o sentido do subsistema, pois posso usar o poder para mim ou para o outro. Nessa díade básica de organização (eu-outro) psíquica encontramos uma das maiores armadilhas do ser humano, pois à custa disso toda a sociedade pode sair perdendo. Passamos a ser diferentes e não iguais, quando a nossa igualdade é o que garante a manifestação de nossa diversidade. Sobre esse subsistema digo: basta olhar o mundo que aí está e ver no que se converteu nossa necessidade política.

S13 - Jurídico - Por compreender que somente o político não resolve nossa organização social, criamos os grupos de pessoas que precisam conhecer os dois lados da moeda dicotômica (eu-outro), para poder resolver impasses e tensões encontrando o melhor caminho do meio. Assim fomos imprimindo nos papéis nossas regras, nossas leis, nossas morais e transformamos isso em conduta social a ser manifestada na prática de vida. O subsistema jurídico é fundamental em todas as sociedades para produzir a justiça social e a garantia da vida no planeta. O direito, a justiça e as normas, mas também saber que sou parte de um todo e que só vou conhecer meu lugar aí se eu conhecer esse todo. A maioria de nós está sujeito à leis que não conhece. Portanto, aqui vale mais questionar do que afirmar: Conheço as diretrizes? Compreendo a ética? Conheço minha identidade social? Tenho uma visão de mundo? Quais seriam as leis que eu gostaria de defender?

S14 - Precedência - Esse é o subsistema que mais demorei para compreender. Ele aparecia colocado como o "êxito", a "elegância", a "promoção" e isso me chegava muito como o "triunfo do ego". Mas a maturidade me fez compreender esse subsistema. Ele representa aquilo que cada um conseguiu conquistar na construção e configuração de se Eu no mundo. Somos seres sociais e precisamos uns dos outros para sobreviver. Somos uma espécie na qual natureza e cultura são elementos essências para constituir o que somos e cada um precisa alcançar a consciência desse lugar. Precedência seria "daquilo que vem antes, do que precede". Aquilo que vem antes é minha formação, aquilo que me constitui, os caminhos que andei que me fazem Eu. Mais do que bem vestir-me ou bem apresentar-me, esse subsistema lembra que eu preciso construir esse caminho, cada um de nós, mirando sempre a humanidade como um corpo único que precisa crescer e se desenvolver. Com precedência, todos nós, chegaremos no respeito.

E para terminar esse longo texto lembro que, como psicóloga, preciso dominar a ciência do todo e a ciência da parte. Esse é um dos lugares desafiantes de nossa sociedade, um dos papéis mais difíceis. pois lidando o tempo todo com as representações sociais que confunde-se na fronteira entre o senso-comum e o científico. Eu gosta de primar pelo científico e o vejo camuflado em todos os subsistemas que aparecem nessa categorização de Müller. Gosto de transcender, mas gosto fazer isso com asas fortes. Esse trabalho que apresento é o resultado de uma pesquisa. Sem nossos cientistas, nada disso que coloquei acima nesse texto teria sido possível. A ciência pode ser considerada, também, um de nossos subsistemas básicos, pois ela surge da dúvida e da necessidade de encontrar caminhos para sobreviver. E é a própria ciência que está nos levando ao sentido de Todo novamente. Por isso um dos marcadores desse texto é ECOLOGIA.

terça-feira, 17 de março de 2020

Lagartos e Morcegos

Meu irmão criou lagartos e morcegos.
Hoje eu os tenho, sem precisar criar.
Morcegos trazem medo à casa.
Lagartos trazem a proteção que o humano sente ao percebê-los frágeis ante à força de um mamífero superior de sangue quente.
E os morcegos ... bem, defumar os afugenta.

sexta-feira, 13 de março de 2020

O si mesmo com apoio de Jung

      Como coloquei a categoria "si mesmo" em minha tese de doutorado, venho aprofundando os estudos na mesma. Nesse processo de aprofundamento pude compreendê-la um pouco mais em Mead, que fala do eu, do mim e do self, e agora a estou captando também em Jung.
       O si mesmo em Jung tem o caráter da zona do perigo, pois extrapola os marcos da ciência moderna. Quando Jung propõe o si mesmo ele dialoga com a noção de Cristo e de Anticristo. Nesse sentido, só se faz possível o entendimento do si mesmo agregando as categorias de anima e animus. Se o si mesmo é essa possibilidade crística, transcendente de todas as formas identitárias, a anima e o animus dialogam com a natureza psíquica criada em polaridade. O si mesmo só é acessível quando nossa polaridade se harmoniza em unidade. Elas são por natureza antagônicas e excludentes e a sua harmonização é o trabalho constante no caminho do auto-conhecimento. E como a sombra está em todas as dimensões, o caminho de integração é desafio permanente, seja no arquétipo anima-animus, seja no arquétipo cristo-anticristo.
       Anima é o princípio criativo e expressivo e animus o princípio intelectivo ordenador. Animus não suporta anima, pois ela bagunça sua ordem. Anima receia o animus, pois ele impede sua expansão.
       Quando ambos conseguirem sintonizar em diálogo com o outro tornar-se-á mais acessível toda a informação disponível no "si mesmo", que entra nessa dinâmica como um outro nível qualitativo do arquétipo, mais arcaico e ancestral. 
      Acessar ao si mesmo seria a iluminação, mas, como somos seres materiais e falhos, o acesso completo ao si mesmo é impossível, pois ali mora a loucura. Jung fala: "A assimilação do eu pelo si mesmo deve ser considerada como uma catástrofe psíquica. A imagem da totalidade permanece imersa na inconsciência.", ou seja, importante estarmos atentos às divisões e harmonizações, mas sempre mantendo algo do caráter do si mesmo no oculto. Em outras palavras eu diria: a sombra sempre está no caminho, sempre vem junto. Retirar a sombra seria a morte do Eu.
       Quando pensei em uma "pedagogia em si mesmo" pretendi reificar a vivência no processo de aprendizagem. Com isso posso me apoiar em Jung, pois ele fala que compreender suas categorias e teorias nunca será possível, caso não as vivenciemos.
       Fiz transição entre pedagogia em si para pedagogia de si, pois me preocupa a prática de cada aprendiz na sua vida cotidiana e também de desenvolvimento psíquico. Sujeito e objeto não são categorias separadas e todo saber, como objeto, só existirá quando existir um sujeito. Daí o título da tese: por uma pedagogia com foco no sujeito. As disciplinas humanas serão melhor compreendidas caso sujeito e objeto integrem-se em unidade, tal como qualquer jogo energético que ocorre entre duas forças complementares. 
       

terça-feira, 10 de março de 2020

A medicina germânica de Hamer

Hamer já morreu, mas deixou um legado.
Ele produziu cinco leis biológicas, com base na sua vivência pessoal e profissional de vida e morte, saúde e doença, cura e enfermidade.

Seguem as mesmas, para quem quer acesso fácil.

1a. lei biológica
A doença tem origem em um CHOQUE que acontece simultaneamente em 3 planos: o psíquico, o cerebral e o orgânico. O biochoque é AGUDO/DRAMÁTICO; SOLITÁRIO; INESPERADO; SEM SOLUÇÃO.

2a. lei biológica
Todo problema tem duas fases
Uma fase ativa, neurovegetativa, simpática, estressora.
Outra fase pós-conflitiva, vagotônica, parassimpática, resolutiva.

3a. lei biológica
Nossa experiência é processual
normotonia - fase ativa - fase resolutiva - normotonia
Dependendo da área cerebral ativada no choque teremos comportamentos distintos no nível orgânico e essa correlação é indicada pelas origens embrionárias dos tecidos.

4a. lei biológica
Não existe uma "culpa" externa pela enfermidade.
Os diferentes grupos de micro-organismos (fungos, bactérias, vírus) respondem a uma correlação entre camadas embrionárias e partes do Sistema Nervoso.

5a. lei biológica
Cada enfermidade é parte de um programa natural ou SENTIDO BIOLÓGICO. São processos que fazem parte da evolução da vida. Não existe malignidade ou benignidade, só EVOLUÇÃO DA VIDA.

E o Hamer na wikipédia, com consulta feita agora:
Ryke Geerd Hamer (17 de maio de 1935 - 2 de julho de 2017[1]), um ex-médico alemão, foi o criador da Nova Medicina Germânica, formalmente conhecida apenas como 'Nova Medicina', um sistema de pseudo-medicina que alterca a permeabilidade da cura do câncer.[2]A Liga Suíça do Câncer descreveu a performance de Hamer como "perigosa, especialmente no que tange a inferência dos pacientes à falsa sensação de segurança, logo estando privados de outros tratamentos efetivos".[2]

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Vida uterina

       Parece que já nascemos. Mas isso é falso. Ainda vamos nascer.
       Cada vez que eu nasço, forma-se uma nova possibilidade de nascer.
       Assim, vou percorrendo a vida em úteros. Não me ensinaram, portanto não percebo, mas estou sempre dentro de um útero. Sempre há um lugar mais amplo que eu, que me comporta e também às minhas necessidades vitais.
       Meu primeiro útero é cósmico. Mesmo estando eu já na matéria, pois sou uma célula ovo, vivo de mim em mim mesma e tenho meu alimento implícito, um vitelo. Ainda me sinto como uma matéria organizada qualquer que flutua no mar do Cosmos.  Rodo solta no mundo até que nasço em outro útero, o útero materno
       Dentro do ventre de uma mãe, alguém que me acolhe em seu espaço, venho do voo cósmico e me ato nesse ser, nessa mãe. Criamos um cordão umbilical e por aí recebo minha nutrição vital. Uma água tépida me envolve na bolsa que habito. Meu único impacto externo é a vida de minha mãe e nossa simbiose.
      Daí nasço, nesse que é o nascer mais popular: o parir da mãe e o respirar a plenos músculos. O ar entra e inspira e sai expirando e vivo. Mas vivo ainda em um útero, o útero do seio materno. Nesse seio vou ficar vinculada até quando me seja possível. Por um bom tempo não poderei me afastar desse seio. Mas que me seja suficiente e que demore para me ser artificial. Mamo em minha mãe e dela me afasto e me reaproximo e aí conheço o mundo. Fico neste útero até que o vertical me chegue.
      Quando estou na vertical, estou no meu novo útero. O útero da vida na Terra. Minha mãe de ventre biológico me entrega à minha verdadeira mãe: a Mãe Terra. Agora ela que me nutre e me sustenta. Vertical e em movimento, exploro essa minha nova mãe. Devo andar por ela curioso, amparado e nutrido de todos os seus sabores e cores, de onde virão os meus saberes. Deixo o mar inconsciente da espécie e me singularizo nesse vasto mundo de vida.
       Um dia meus dentes começam a trocar. Forma-se minha persona nas idades. Vou trocando terminais sensoriais e vou dando vida aos novos circuitos neurais que me farão pessoa viva no mundo. Vivo em um útero que vai permanecer dos sete aos vinte um anos, aproximadamente. Nesse útero vivo o meu processo de maturação de bio-logia na lógica da vida da mãe Terra, chegando no tempo a percepção que de um planeta caminho a um sistema mais amplo, um Sistema Solar. sou uma unidade num sistema de diversidades, estou num sistema que reúne outros planetas, outros eus. Desse patamar posso ir rumo ao próximo útero. De um planeta habitante de um sistema solar, eu, um filho de uma família que está em sociedade, vou conhecer galáxias.
       Do sistema solar ao útero da Via Láctea. Um longo útero, lugar de um processo de contínuo desgaste funcional. Dos tenros 21 anos aos maduros 56. Nesse período de vida dou forma ao ser nutrindo-me no leite da Via Láctea, fonte de inspirações profundas e transformadoras, de mim mesma e do mundo ao meu redor. Venho de um caminho que começa no mar inconsciente da espécie, morrendo em um útero, nascendo em outro, continuando meu caminho, explorando meus horizontes de eventos, atravessando fronteiras no movimento de trans-formar. Na matéria chego no ápice e declino em seus desgastes. Experimento os êxtase e gozos, para enfim sossegar na quietude da plenitude. A matéria corrompe e o espírito avança. Tempo de integrar os centros vitais cerebrais em uma unidade, na amplitude de uma galáxia. Uno meu pensar, meu sentir e meu agir, caminhando na convergência que liberta o espírito. Vivo submersa nas fontes de leite das tetas de Via Láctea.
       Uma vez madura, tenho coragem de deixar as tetas seguras da Via Láctea e mergulho no Universo sem fim. No corpo vou desgastando, mas na mente vou avançando, aproveitando a força desse útero universal de lucidez. Tenho domínio do aparelho e canalizo as forças de alta frequência, para que se manifestem aqui e possam harmonizar nossos centros de vivência, de sentir e de pensar. Fazemos na vida a mudança pelas sabedorias que chegam de reinos do universo infinito.
       Se avanço na vida, e aqui continuo forte, chego aos 84 anos e posso vir a ser clarividente. Nessa idade da persona encontro o último útero de vida aqui na Terra, a mãe que me entregará ao Cosmos, para onde retornarei. Esse é o útero da transição, pois o próximo útero ainda nos é desconhecido. Mas, habituado que estou a mudar de úteros, não sinto receio do espaço desconhecido que virá, pois sei que será mais um útero cuja finitude é também previsível ou imaginável. E que por ali meu caminhar poderá continuar. Eu venho do primeiro útero, que é também cósmico, então poderei aí estar, de volta ao mar inconsciente e ancestral da espécie.
       De ciclos em ciclos, vou fazendo o viver da matéria em entropia e do espírito em sintropia, holotropia, neguentropia. Do útero cósmico o ovo desce ao útero materno e passa a ser. Daí se liberta e alcança o útero do seio, onde passa a estar. Desse útero alcança o útero da Mãe Terra, que o libera ao útero do Sistema Solar, que o entrega ao útero da Via Láctea, que o amplifica no útero do Universo, que por fim clarifica no útero da clarividência, Útero do Finito Estar do Infinito Ser. Oito úteros de vida uterina do macacão de carne aqui na matéria.

Créditos: Essa matéria aprendi com Prof. Mário Baldani, nos meus cursos de formação em Biocibernética Bucal. Como estou chegando na maturidade dos 56, muitas das palavras aí colocadas já são minhas.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Transferência de informação

Queria aprender a linkar as coisas sem perder suas singularidades.

E queria que as pessoas parassem de linkar a si mesmas a certos pacotes de informação disponíveis hoje via redes de comunicação social.

Falo sobre a delicada membrana que separa o ser singular do ser plural.

Falo da ocupação das mentes de uns por outros, do eu ao tu, com pacotes de informação desnecessários ao processo de desenvolvimento humano. Pacotes de entropia.

Linkar-nos hoje nos massifica e nos leva por ondas que são devastadoras. Estamos recebendo um cérebro a mais, cujo controle de mensagens não nos pertence de todo. Eu ainda não aprendi a controlar meu cérebro biológico e já tenho que controlar mais um cérebro tecnológico, mais um para lidar. E um que manda pacotes de informação dos mais variados o tempo todo e, se eu ficar grudada demais nesse cérebro tecnológico, vou ver mesmo que eu não tenho mais controle e nossa ... o que é isso tudo mesmo? Será que eu entendi o que eu falei? Vou tentar ser mais direta.

Hoje circulam muitas merdas. E um presidente que fala merdas, autoriza e institucionaliza a veiculação de pacotes de merda. Eu engulo e produzo pacotes de merda e ocupo as mentes dos outros com essas merdas. Então, fique com sua merda. Não ocupe a mente do outro com merdas. Não leve em frente esses pacotes de informação. Informação vem como luz, em pacotes. Tenha consciência dos pacotes de informação que ocupam a tua mente e que você emana, propaga.

Falar e pensar hoje em dia é feito pelo acréscimos dos dispositivos materiais portáveis. Todos nós estamos com um adereço a mais ao aparato biológico e estamos conectados uns aos outros o tempo todo. Meu notebook me filma agora enquanto eu digito esse texto para meu blog. Mesmo que eu assuma hoje um pseudônimo (coisa que muitos dos nossos ancestrais tinham para poder publicar suas ideias mais contundentes e provocadoras do sistema), por conta do aparato que já aí está, não sou mais uma anônima. Não tenho mais formas de me camuflar, pois existem os programas de identificação de face.

Então, vamos assumir o que somos e vamos parar de veicular merdas. Sabendo que não sou mais anônima, não posso passar em frente pacotes de informação que sejam entrópicos por serem medíocres. A entropia já está muito grande no sistema e sinto melhor vibrar pacotes de energia informacional que promovam um colapso de onda de matéria harmônica. Em outras palavras, plasmar o humano mais lindo vivendo na Terra mais plena! Direito de qualquer um que encarnou aqui nesse planeta. Assinamos o contrato de vida, pois A miramos de fora e sentimos: nossa, como é linda!! Quero entrar ! Portanto, todos temos o direito de viver toda a lindeza da Terra para todo o sempre das muitas gerações futuras que ainda poderão estar aqui. Só que para isso, temos que parar de circular merdas poluentes.

Esquecemos por milênios essa visão da Terra vista de fora, mas hoje, com nossas tecnologias, fica mais fácil lembrar e agir de acordo com o total respeito aos sistemas macros, intangíveis e incomensuráveis. Se a Terra, por si só, existe no sistema cósmico, quem sou eu, observador externo do sistema, que quero com ela formar uma unidade existencial?

Hoje eu entendo que nossa evolução tecnológica teve o objetivo de nos ajudar a lembrar quem somos e ativar o potencial cerebral que temos. Defendo que a tecnologia gerada seja aplicada aos serviços pesados da sobrevivência e que nós possamos estar mais liberados para amar a natureza, produzir cultura e praticar harmonia entre nossa espécie e todas as demais que possam estar aqui, pois tudo que está aqui está vivo. Imaginem um cérebro como nosso praticando todas as suas potencialidades de mente infinita. Não falo de matéria finita, pois ela merece transformar. Falo de imaterialidade infinita, pois essa é a onda que existe junto com a matéria.

Vejo que o desenvolvimento da tecnologia foca projetos malucos, tipo montar uma colônia em Marte para enviar alguns poucos escolhidos que sobreviverão ao cataclismo aqui na Terra para salvar nossa espécie. Sorte minha que não estarei nesse grupo. Prefiro continuar terráquea a virar marciana e torço para que toda essa potencialidade cerebral de criar mundos possa ser canalizada à redução de danos, tanto do planeta, quanto da humanidade.

Nossa inteligência cerebral nos levou onde estamos e isso dá um tamanho a nossa potência. Fico sentindo o que Aristóteles pôde pensar sobre "potência" e o que eu posso pensar hoje.

Um cérebro singular, que se sabe potente e coloca em práticas essas potencialidades, junto com outros singulares desse tipo, ajuda na construção de um caminho de mundo de tecnologia em benefício da Terra e da sobrevivência equânime de todos. Um Eu atento ajuda na reformulação do direcionamento do caminho do nós enquanto espécie viva. Basta saber como se linkar e quais pacotes informacionais quer propagar. E praticar essas mudanças em seu viver concreto.

Mas o que vejo são espaços de produção e propagação de ideias massificadoras, que nos tiram de nosso objetivo maior, que é viver com amor, trabalho e conhecimento. Desenvolver a espécie, pensando em como estarão as futuras gerações. Ser atento hoje para que a filha de minha filha seja atenta amanhã. Produzir sobrevivência com respeito ao solo sempre pensando em como ele poderá estar amanhã.

O que vejo são pessoas massificadas e anuladas em si, sendo controladas pelo cérebro que carrega como apêndice. E os singulares se perdem nesse todo entrópico. Os sujeitos mortos e o viver comprometido. Estamos todos caminhando para um suicídio, junto com vários assassinatos.

Que forças controlam as informações que ocupam a minha mente?

Sei lá, só quis criar um link de amor. Tornar esse ícone acessível e possível.
Ver meu Brasil esses tempos está me deixando muito reflexiva e ativa.
Queria aprender a linkar coisas sem perder certas singularidades.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Quem adoece é o todo e não a parte

       Nossos sintomas são nossos parceiros de caminhada. Quando aparece um sintoma, seja ele psíquico ou fisiológico, importante compreendermos o que esse sinal procura alertar. Posso passar por ele mais descompromissada, olhando-o como se ele fosse isolado de um todo maior. Entretanto, quando permito ampliar meus receptores, percebo que esses sinais fazem parte de um caminho de desenvolvimento e podem me ajudar a crescer e transformar.
       Já comentei em outras postagens que transformar dá trabalho e assim adiamos a transformação para um dia qualquer, que não sabemos bem qual é. Todavia, quando emerge um sintoma forte o sistema está falando: luz vermelha, há algo em seu percurso que é necessário atentar. Um sintoma que cresce sem desvios pode levar o sistema todo a colapsar.
       Mas existem os remédios e eles aplacam os sintomas. Quantos são os pacientes que perdi para os remédios! Nem tenho como contar. "Ah, agora estou tomando remédio e dormi bem!" ou "Ah, agora estou tomando o remédio e consegui acordar bem!" ou "Ah, agora estou tomando o remédio e consigo o foco no meu trabalho e estou mais calmo com meus filhos!" E por aí afora!
       Só que desconsideramos que nosso cérebro, por funcionar por auto-regulação, pode produzir substâncias por ele mesmo que podem regular meus sinais psíquicos e corporais. Só que para conseguir isso, não posso adiar uma transformação para um dia qualquer que nunca chegará.
       Quando falamos em sintomas fisiológicos soma-se a possibilidade de compreendermos que o sintoma "veio por agente externo". Uma gripe foi um vírus, uma inflamação foi uma bactéria, um desarranjo foi um fungo. Só que com isso anestesiamos a noção de que o fungo, ou bactéria ou vírus se desenvolveu em mim, um corpo integrado. São níveis qualitativos distintos, um fisiológico, um emocional, outro racional, mas todos são camadas da mesma unidade.
       Não sou a primeira que vou defender isso e nem serei a última, mas considero relevante aproveitar o sintoma para crescer, para desenvolver, para transformar. Existem livros que universalizam os signos, mas defendo que os mesmos precisam fazer parte de um diálogo com o ser singular que apresentou o sintoma. Talvez uma reação alérgica nos pés (muitas vezes resultantes de uma colônia de fungos que escolheu esse local para se desenvolver) pode significar "não quero caminhar", mas talvez possa significar "cansei de caminhar". Quem sabe possa ainda significar "quero alguém para caminhar comigo" ou "cansei de caminhar ao lado desse alguém". Não temos como determinar, não temos como precisar. Estaria algo nos pés ligado ao caminhar? Ou estaria ligado ao suportar, ao estabilizar, ao parar? Muitas possibilidades se abrem.
       Daí a importância de falarmos em sujeito. O sujeito do sintoma. Nenhum profissional tem o direito de marcar um singular com o social, ainda que de saída saibamos que esse sujeito só existe por ser social. O singular precisa do direito de fala. Nosso trabalho é encontrar armadilhas, desarmar contradições, indicar confluências, sinalizar gatilhos, apontar desdobramentos.
       Um bom profissional de saúde educa para a consciência e não se sobrepõe, assumindo um lugar de dono do saber, de portador de todos os códigos e de detentor da resolução. Podemos conhecer as medicinas, podemos colocar em confrontos as experiências daqueles que nos procuram, mas jamais devemos assumir o lugar de soberano ante todo o saber.
         

Pierre Rivière e as traduções de sua ação

       Aos que estudam psicologia, e querem sustentar o título de profissional do psique, recomendo a leitura de "Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão", coordenado por Michel Foucalt e publicado em 1973.
       Essa obra mostra o cuidado que precisamos ter ao estarmos no nosso lugar de "intérpretes" do psiquismo. Primeiro por que Foucalt sempre lembra da relação entre poder e conhecimento. Depois por que, ao estarmos cientes da subjetividade, sabemos que não basta ouvir por uma via, pois isso despreza todas as outras múltiplas vias de compreensão de uma história. E, por fim, por nos ensinar sobre as disputas entre saberes que levam ao assassinato do sujeito da ação. 
       O assassinato do sujeito da ação nessa obra culmina com o desrespeito ao sentido que o sujeito queria dar à sua vida, que seria a sua morte. No caso relatado, um fato ocorrido em 1835, uma ação revela alguém que matou para morrer. Um Eu que não matou, mas que morreu. Um Eu que matou para matar a si. Como condenar? Como traduzir?
       A discussão que está em foco é a disputa entre dois saberes superiores: o médico e o jurídico. Esses dois saberes, no tempo em questão, divergem sobre a razão e a des-razão. Se a ação é um discurso, o que ela fala? Quem eu vejo na ação? Um louco ou uma besta? Um delírio ou uma intenção? O curioso é que aquilo que para uns era sinal de loucura, para outros era sinal de lucidez.
       Destaca-se o contexto tão bem trabalhado pelos autores do livro, uma época em que a morte entra em foco e a justiça debate o matar em glória de soldado, que é o matar autorizado pela sociedade, e o matar do assassino frio, aquele sem louvor e colocado em tom de desprezo. Ambos são matar, mas são pesos distintos numa sociedade que se faz hipócrita. O assassinato torna imortal o guerreiro, mas garante o nome sombrio do criminoso. Que linha tênue habita o intervalo entre o legítimo e o ilegítimo na ação de finalizar a vida de outrem. É o próprio Foucalt que debate o cuidado em que se operam as divisões entre o "gesto glorioso do soldado" e o "ato vergonhoso do assassino". Nessa linha se forma uma sociedade patriarcal que tem no poder da vida e da morte o seu desdobramento. Como manter a integridade social quando alguns são autorizados a matar?
       O encanto nessa obra mora na elucidação de quatro vozes: a do sujeito da ação, a do povo em torno da ação, a do saber judiciário e a do saber médico. Quatro séries de discursos que indicam deslizamentos de sentidos e contradições. O objetivo do grupo de trabalho que Foucalt coordenou e que resultou na obra publicada foi: "explicar como se operam os deslizamentos, como se determinam estas contradições" partindo de confrontações entre essas quatro narrativas.
       O mais incrível dessa aventura é ver que numa mesma ação interpreta-se o sujeito como louco ou como um gênio, como um idiota ou como um ser extremamente sagaz. Na verdade, o que está em jogo é o assassinato do sujeito, só que no caso de Pierre Rivière não conseguem. Ele se faz sujeito de sua intenção até o fim.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Meu lugar de trabalho

Motivo da ação
Motivação/ação
Pensamento
     Conteúdo
     Forma
     Linguagem
     Compreensão
     Expressão
     Concentração
     Foco
Colaboração
Consolidação
Recordação
Esquema corporal
Coordenadas
Intensidades
Limiares
Seletividade
Sensitivo
Captor
Sensório
Sensorial
Integral

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Uma base para um apanhado geral

       Desde 1989 trilho um caminho ao lado da Biocibernética Bucal. É um caminho árduo, pois é feito ao lado de um saber e fazer marginal. A BCB não tem reconhecimentos científicos em certas comunidades e é tratada como senso comum questionável e pouco provável. Além disso, no meio desse caminho, mais ou menos em 2009, meu parceiro odontólogo achou por bem investir em outros focos, em outros caminhos, que não o da Biocibernética Bucal. Foi estudar implante, ortodontia e DTM.  Dentre outras, sentiu que seus colegas desse caminho marginal falavam muito em outras escolas também marginais, mas não falavam dos avanços odontológicos que a BCB carecia e do diálogo que ela deveria ativar com a odontologia mais convencional que também apontava aberturas para o entendimento do lugar da boca no todo do corpo. Porém, mesmo que me companheiro tenha feito essa opção, eu continuei caminhando um tanto biociberneta, pois quando vou com a psicologia deixo de ser marginal e passo a ser essencial nessa senda. Assim, sempre continuei intrigada e continuei estudando ecologia, mesmo depois de publicar a Biocibernética Bucal em Verso e Prosa em 2012.
       Mário Baldani sugeria que nós lêssemos TUDO e segui esse conselho. Obviamente ainda não li tudo, mas li muito desde então. São 30 anos que venho lendo e lendo e sempre ampliando o tudo que pode ser o TODO que Mário Baldani nos sugeriu de leitura para compreender a Biocibernética.
       Ano passado foi um ano em que muito pude ler e pouco escrevi. Como alterei meu sistema de trabalho, consegui mais tempo para investir em estudos necessários ao avanço nesse saber. Então, esse ano posso produzir muitos textos com base nessa leitura feita e vou aceitar o desafio de expor esses saberes aqui mais à miúde. Foi um ano que consegui ler sobre o humano, sobre o tempo, sobre o espaço, sobre o dentro, sobre o fora, sobre o de cima e sobre o de baixo. Sobre saúde, educação e espiritualidade. Sobre corpo e psiquismo. Li muita ciência e li também obras que integram ciência com outras linguagens.
       Ler filosofia, arte, ciência, espiritualidade e política, que são cinco vias de expressão do saber e que podem ser compreendidas como os cinco dedos da mão que produz nossa vida aqui nessa Terra e que perpassam a complexidade necessária à compreensão da biocibernética, é a ação necessária à conquista desse saber e consolidam um grau de formação, uma curva de aprendizagem em biocibernética.
       Assim, esse tanto lido em 2019 merece um apanhado geral, contribuindo com o avanço desse caminho marginal à odontologia, mas essencial à psicologia e outras ciências da saúde e da educação. Noto que não podemos mais adiar a apropriação de um saber essencial por todos nós, seres humanos. As chaves que nos livram da prisão são até óbvias, mas são reiteradamente camufladas, distorcidas, invalidadas. Mas quando assumirmos que é na ação que conseguimos a melhor relação com essas chaves, todo dia vai ser um dia bom para compartilhar chaves com pessoas que poderão colocar em prática e em ação os códigos que são abertos por essas chaves que nos livram da prisão.  Lembro que a prisão tem relação com a cela, que é a célula que aprisionou o plasma, o espírito livre. (Vide filme)
       Um apanhado geral pode levar mais de um ano para ser feito, mas ele tem que começar em um ponto ou momento. Vou começar, então, com W. Reich e algumas coisas que ele nos lembrou sobre os estudos e trabalhos com a bioenergética, que obviamente tem relação e afinidade com a biocibernética. Primeiro, que temos que ser científicos, senão seremos desarticulados muito rapidamente em nossas fragilidades. Depois, que temos que compreender que vivemos sobre três pilares: amor, conhecimento e trabalho. Todos esses três precisam ser livres e circular em igual proporção entre todos. E, por fim, compreender que trabalho é harmonização de todas as funções necessárias para a garantia de nossa sobrevivência enquanto espécie, afirmando que TODOS somos da mesma espécie e que, portanto temos direito ao trabalho e à qualificação para tal.
       Vamos perceber que, no apanhado geral, Reich nos brinda com três elementos (o que faz dele um pensador triádico) que estão simbolizados em três centros de inteligência: coração, cabeça e ventre, respectivamente. Assim, lembro que uma das chaves é harmonizar esses três centros em cada ser singular (quem quiser que assuma o seu) e também no ser coletivo da humanidade, que é o que  resulta dos muitos singulares que alcançaram isso. Bora começar! Se materializarmos a circulação do conhecimento que qualifica o trabalho e o garante para todos e cada um de nós, o amor ficará livre, irá circular e irá sustentar todo o sistema. Assim de simples. É por isso que os detentores do poder, do capital e da força de produção não querem colaborar. Não querem a liberdade e o usufruto da energia por todos e cada um de nós, pois assim eles perdem seus privilégios de seres detentores de energia de vida, de bioenergia. A primeira prisão é a prisão da bio-energia e do desrespeito à bio-lógica.
      
        

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Escrever ativar

       Os lobos e lobas pediram para eu escrever.
       Aos lobos e lobas escrevo.
       Ao selvagem que pulsa e vibra.
       Ao escrever que ativa.