Minha razão

Olá!!
Criei esse espaço para postar subjetivações subjetivantes do sujeito que sou!
Filosofia, psicologia, educação.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

A mente cooperada com o espírito

       Outro dia fiz uma poesia inspirada nos selos vindos dos Maias e interpretados por José Argüelles. Sigo essas premissas tem um tempo e as sinto válidas. É curioso compreender um sentido para a entrada, refinamento, processo e saída de energia no universo. De uma gênese a um lume no universo.
       Então, recentemente fiquei curiosa com os tons. Os 13 tons que movimentam os vinte selos, combinando-se harmonicamente em um ciclo de 260 dias. Esses tons são como ações.
       Esse calendário de 260 dias combina jogos de quatro dias. E o começo do processo lembra o que aprendi com Doro sobre a forma e o limite. Nessa dinamicidade dá-se um movimento para fora da forma. Depois, faz-se necessário refinar, com humildade, o que veio de fora da forma. E só assim transformar. E com paciência. Ao final, o poder do saber. Eles falam em quatro semanas. Um ano com treze meses, cada um com quatro semanas. Sete dias para mergulhar fora, sete para refinar o encontrado, sete para transformá-lo com paciência e, por fim, sete para atuar o saber.
       Os treze tons dialogam com esse movimento de quatro. São eles:
1 - Atrair e entrar.
2 - Dualizar e tensionar
3 - Ativar (do duo ao trio)
4 - Configurar
5 - Ter mobilidade e realizar. Pulsar o tido. Reverberar.
6 - Organizar para harmonizar-se ao todo
7 - Canalizar (ajustar-se ao tom)
8 - Sintonizar (eu vivo o que acredito?)
9 - Reafirmar. Pulsar e realizar.
10 - Produzir (aperfeiçoando)
11 - Dissolver (liberar-se)
12 - Doar-se ao todo (cooperar)
13 - Transcender

       Algumas culturas produzem saberes, cujo objetivo é desenvolver a mente para que ela consiga ações espirituais. Precisamos desenvolver frequências para que o espírito possa atuar cooperado com a mente. Esse, dos selos tribais movidos por tons, seria um dos caminhos possíveis. Conheço outros e respeito muitos. Alguns eu sintonizo e exercito com mais frequencia. Esse calendário é um deles. A cada dia, um kin. E de tempo em tempo, um dia de não tempo para não ser. 
       Aqui no blog, só um algo mais para registrar, compartilhar e ter por perto para estudar.
       Quem ficou curioso - digite e busque: Tzolkin

terça-feira, 28 de junho de 2016

Ler Leitura

Ler, ler, ler
Ler para me inspirar
Ler não para determinar o certo
Mas para alimentar meus diálogos internos
O que eu leio,
é para me inspirar.
E inspirada, amplio meu dialogar.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

A métrica

       Fazem alguns anos que estudo o ser humano e o mundo. Meu viés sempre foi o da filosofia da ciência e, obviamente, meus campos de formação: a psicologia e a educação. Esses anos de estudo me permitem forjar algumas imagens que me ajudam a construir algumas explicações.
       Uma delas refere-se à métrica. Métrica, de medida. Medir em metros, metrar.
       Colocaram medidas no mundo. Construíram a métrica. E, a partir daí, tudo ficou pautado pelas medidas. Colocaram a régua que determinou o dentro da métrica e o fora da métrica. Ao colocar a medida, colocou-se o padrão esperado de medida. Os gregos fizeram isso criando proporções.
       Então, pagamos um preço por isso. Passamos a nos olhar uns aos outros em termos de transtornos. Você é transtornado por estar fora da medida. E isso gerou a consequente patologização do humano. Dentro da medida: normal. Fora da medida: anormal. Só que as medidas são arbitrárias, não são da natureza, são do humano, pelo humano e para o humano.
       É por isso que fica tão difícil fazer meus alunos de psicologia compreenderem o humano em termos de processos subjetivos, pois eles estão formatados pela métrica.
      Em atividade com um filme, procurando mostrar um ser humano vivendo a vida e construindo seus processos subjetivos no lidar com ela, escuto o estudante perguntar: "Professora, o que a garota do filme teve foi um transtorno de adaptação?" - a resposta é não! Ela não teve um "transtorno de adaptação". Ela teve um momento de vida significativo, que fez com que ela sentisse uma dor pela perda, um encontro com a solidão, a necessidade de uma reconstrução de si, pois seu mundo mudou. Ela teve uma processo subjetivo de diálogo consigo mesma e com o mundo, que permitiu ela caminhar por sua história e resolver sua situação angustiante. Ela viveu um processo subjetivo, não algo fora de uma métrica.
       Não é possível negar a existência dos transtornos, mas é possível compreendê-los de uma forma que não seja a patologizante, tão comum no modelo biomédico, que procura as doenças e, acreditando compreender a doença, indica os seus remédios. Para sair desse modelo temos que trocar os óculos de visão de mundo. As "doenças" são construídas. E quem as constrói, pode desconstruí-las.
      Não é justo olhar o ser humano buscando a doenças ou tentando encaixá-lo num métrica. É justo olhá-lo como um potencial expressivo, que é capaz de criar a si mesmo e se recriar, sabendo que seu espaço de vida é social, é cultural e que faz história.
      Existe um mundo em função da métrica. Difícil sair disso. O que precisamos é nos liberar da métrica como sendo a única verdade possível, gestando novas possibilidades, novos conceitos. O humano tem predisposição para ser muitas coisas. Para ser e para não ser. Interessante é captar a dança entre essas possbilidades, perceber quando se identificou com uma e ali estacionou, compreender se esse estacionamento causa prazer ou dor. E caminhar, caminhar. Ser humano é caminhar, senão não seríamos bípedes e verticalizados, com dois pés firmados no chão da Terra.

domingo, 12 de junho de 2016

Aprendizagem e sentido

       Hoje passei parte do meu dia corrigindo provas de psicologia social comunitária. A prova contava com duas questões discursivas, que precisavam ser respondidas mais com compreensão do que com acumulação de conhecimento. Ao corrigir as provas, percebia que alguns estudantes conseguiram CAPTAR O SENTIDO do ponto essencial da disciplina, que seria discutir a dimensão do assistencialismo e do empoderamento, assim como articular os conceitos de comunidade, redes e o papel do psicólogo social comunitário. Então, enquanto lia as respostas, compreendia que isso poderia ser a aprendizagem: captar os sentidos.
       Nós humanos podemos captar sentidos e aprender; produzir sentidos e criar. O sujeito na subjetividade cria intenções. A intenção produz uma ação, que gera um movimento, que irá encontrar novas intenções. Entretanto, as intenções podem ser criadas, ou seja, podemos produzir novas intenções, mas também podemos usar intenções já produzidas. O já produzido entra como recurso possível ao processo subjetivo. O humano pode criar ou reproduzir, e o criar coloca o sujeito, para o bem ou para o mal. Quando há criação e manifestação, há um sujeito ativo.
       A subjetividade é o Todo. Muitos Todos produzem um novo Todo, diferente da soma dos Todos que o compõem. A subjetividade é o Todo e só existe subjetividade no Todo. O Todo é o singular e o plural, dependendo de onde está o foco e  intenção.
       O nosso trabalho é pedagógico, temos que fazer pedagogia. Temos que educar e o que transforma é O educar como ação. E, sendo ação, se faz no sujeito. No meu caso, compreendo que trabalho com produção de sentidos, tanto como psicoterapeuta, quanto como educadora. Provoco para que o outro produza em si seus sentidos e assim alcançarmos transformação.
       A isso procurei caraterizar como Pedagogia em si - eu não aprendo fora, em abstrato. Aprendo em mim, em ato e captação de sentidos. Captar o sentido de algo compartilhado é abrir em si uma nova zona de sentido. Produzir um novo sentido é produzir novas zonas de sentido ao conhecimento humano. Alguns se dedicam a isso: ampliar o conhecimento como novas zonas de sentido. Outros apenas captam sentidos já colocados. Mas todos podem produzir novos sentidos em sua subjetividade individual. E compartilhar seus novos sentidos para que eles possam ser captados por outros.
       É estranho tentar dialogar com o aprender e o produzir. Temos que aprender coisas que outros produziram. Mas para que isso passe a ser recursos nas minhas configurações subjetivas, preciso produzir para mim. Para fazer sentido em mim e para mim precisa ser meu, em mim. Seria esse o diálogo que Mead queria com o Eu e o Mim? Dois momentos que estão em diálogo para construir o meu real? Em algum lugar a dialética se faz una. Que seja, então, na subjetividade. 

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Fim de semestre na disciplina Psicologia Comunitária

Bom dia, comunidade!
       Vamos ao encerramento de nossa discussão sobre os temas que emergiram nas socializações. Como a turma é grande e o tempo é curto, vou aproveitar essa manhã para dar uma "aula escrita".
Sobre nossos temas sociais:
       Criança e idosos voltaram no segundo dia, reforçando um destaque a esses dois temas, pois são o começo e o final da vida e, os dois, estão demandando trabalhos sociais.
       Tivemos a presença de dois temas polêmicos: religiosidade e gênero. Passamos um pouco pela sanidade mental e física (tema relevante para a psicologia) e também pela organização social. Nossa sociedade é uma organização um tanto fragilizada que aponta carências em muitas direções. Somos um tipo de Rede onde certos núcleos retém, acumulam, deixando outros núcleos desprovidos. Esse acúmulo é de conhecimento, recursos, estratégias, tudo aquilo que pode circular por uma Rede humana. Como a Rede se faz de trocas, acumular desarmonizadamente não é interessante para a Rede como um todo.
       O tema da religião/espiritualidade precisa ser compreendido por um psicólogo comunitário da seguinte maneira: religiosidade não é o mesmo que espiritualidade e cada pessoa tem o direito de escolher sua via espiritual. Na psicologia defendemos a liberdade e o respeito em torno a este tema. E alertamos que é na religiosidade que a coisa se torna "separação entre os humanos", por conta da diversidade possível e da construção do limite que cada religião faz entre o verdadeiro e o falso. Tememos as lideranças opressoras e mentirosas. Defendemos a conscientização do tema como um elemento cultural, arquetípico, ancestral, cheio de simbolismos conscientes e inconscientes. Saber pilotar por esse tema tão rico em códigos é uma destreza importante de ser adquirida, pois assim transitamos bem por todas as matrizes religiosas que cruzarem nosso caminho de trabalho profissional.
       Fico feliz que, pela primeira vez nesse trabalho um grupo trouxe o tema da matriz religiosa africana, muito cheia de preconceitos e desconhecimentos em torno dela. É importante conhecermos os contrapontos dos mundos fechados que transitamos. Comunidades de matriz católica ou protestante aparecem fácil. As marginalizadas são mais invisíveis e protegidas, pois já sofreram muita discriminação. Existem as movimentos espíritas também, que muitas vezes caem num assistencialismo traiçoeiro. E temos as matrizes orientais, que também são possibilidades culturais de relacionamento com o imaterial.
       A psicologia precisa trabalhar pela construção de uma sociedade harmônica, que integre o imaterial e o material na mesma dimensão de respeito e igualdade de direitos. Não importa a matriz cultural religiosa, importa o sentido de conscientização e de emergência de sujeitos.
       O tema dos gêneros e das relações entre eles precisa ser compreendido por um psicólogo comunitário da seguinte maneira: falar em humano é falar em uma possibilidade de múltiplas manifestações. Quando uma criança nasce não está determinado o que ela será em termos de humano. Vai depender de todas as circunstâncias e vicissitudes que encontrar pelo seu caminhar na vida. Precisamos desenvolver o respeito por cada um, sendo cada um como um possível. Aqui entra o tema da violência e do afeto. Esse jogo de atração e repulsão nos dinamiza tanto, que muitas vezes perdemos a capacidade de pilotar nosso existir. Assim, vamos resolvendo esse jogo da maneira que conseguimos. E fazemos nossas opções por amar e por rejeitar ao longo de nossas vidas.
       Para tratarmos esses temas com coerência, precisamos ir um pouco mais além, pois aqui precisamos falar de "matriz cultural" - nossa matriz cultural é patriarcal, masculina, branca, elitizada e dominadora. Isso é simbolizado no Europeu que aqui chegou e encontrou Nativos (não brancos, não elitizados, com outros diálogos possíveis entre o "masculino" e o "feminino") e trouxe Negros (com outros simbolismos constituídos), subordinando-os. E aqui fez-se uma miscigenação.
       O brasileiro é um produto de uma mistura de diversos genes, credos, códigos e modos, que faz com que nós sejamos muito mais do que qualquer uma daquelas outras matrizes anteriores (branco, índio e negro). Assim, precisamos compreender que nessa matriz muitas coisas tidas como "verdade de maioria", podem não ser a verdade, pois temos uma parte do grupo que se fez dominante, criminalizando o que não fosse "oficial". Nessa criminalização e marginalização entra a forte matriz vinda da Europa medieval, das cortes, da Igreja e das doutrinações, que trabalhou na imposição de uma crença por meio do medo e da violência. Assim, nosso Brasil ficou muito cristão-europeu e perdeu de vista outras matrizes que lhe são importantes. Perdemos a relação com a natureza, tal como tinham os índios; e a relação com as divindades naturais, tal como tinham os negros. Nossa cultura foi forjada no domínio do modelo Europeu em termos de códigos e, desde depois da segunda guerra, esse trabalho de dominação cultural seguiu perpetuado pelos Estados Unidos, colonizando o Brasil, impondo seu modelo e dificultando a percepção das múltiplas matrizes culturais humanas que aqui temos. O dominador faz um trabalho de construção de uma monocultura, excluindo as diversidades. Por isso precisamos conscientizar as pessoas desse jogo perigoso. Temos que ajudar as múltiplas matrizes culturais a se manifestarem em suas comunidades de base. Temos que conseguir construir diálogos.
       Nesse trabalho de conscientização entra o respeito aos excluídos da grande matriz: os negros, pobres, analfabetos, camponeses, nativos, as santerias, as mulheres e suas ervas, seus saberes, seus ciclos, tão inconstantes e diferentes do homem racional, previsível e mecanicamente ritmado. Essa matriz racional e mecanicamente ritmada constrói, também, o sentido de sanidade e de loucura - campo onde temos que atuar.
       Aqui ressalto a ampla constatação de todos os grupos, que o problema, muitas vezes está em singularidades que se sentem apartadas do todo. Pessoas com dificuldades de relação, de compreensão do trabalho em grupo, interesses confusos, ganhos secundários, etc. Nosso trabalho seria o de sensibilização para a importância de um trabalho de desenvolvimento pessoal. Saber quem sou eu para ter consciência de qual lugar social eu ocupo. E assim, ajudarmos ao todo.
       Na dialética da hegemonia e da contra-hegemonia a humanidade vai construindo sua história com os diferentes, tentando harmonizar sua caminhada entre tantas desarmonias. Precisamos desconstruir muitos mitos criados para sermos boas psicólogas e bons psicólogos e conseguir ajudar nossa sociedade a respeitar as diferenças, compreender as opções, lutar por uma sociedade mais instruída e responsabilizada por si mesma. Quando colocamos a responsabilidade de nossa vida fora, ficamos caminhando, caminhando e nunca encontraremos resolução. Levantando um princípio mais autopoiético, quem sabe, emergirão mais sujeitos ecológicos nas nossas redes humanas.
Espero que o curso de psicologia social comunitária ajude a instalar essa matriz ética em cada um de vocês! Precisamos de psicólogxs comprometidxs com o todo do humano!

Abraços!!
Grata ao trabalho de grupo que conseguimos!!
Profa. Ana
Texto publicado à turma de Psicologia Comunitária do IESB Oeste, escrito na manhã de 06/06/2016, Brasília-DF.