Minha razão

Olá!!
Criei esse espaço para postar subjetivações subjetivantes do sujeito que sou!
Filosofia, psicologia, educação.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

A métrica

       Fazem alguns anos que estudo o ser humano e o mundo. Meu viés sempre foi o da filosofia da ciência e, obviamente, meus campos de formação: a psicologia e a educação. Esses anos de estudo me permitem forjar algumas imagens que me ajudam a construir algumas explicações.
       Uma delas refere-se à métrica. Métrica, de medida. Medir em metros, metrar.
       Colocaram medidas no mundo. Construíram a métrica. E, a partir daí, tudo ficou pautado pelas medidas. Colocaram a régua que determinou o dentro da métrica e o fora da métrica. Ao colocar a medida, colocou-se o padrão esperado de medida. Os gregos fizeram isso criando proporções.
       Então, pagamos um preço por isso. Passamos a nos olhar uns aos outros em termos de transtornos. Você é transtornado por estar fora da medida. E isso gerou a consequente patologização do humano. Dentro da medida: normal. Fora da medida: anormal. Só que as medidas são arbitrárias, não são da natureza, são do humano, pelo humano e para o humano.
       É por isso que fica tão difícil fazer meus alunos de psicologia compreenderem o humano em termos de processos subjetivos, pois eles estão formatados pela métrica.
      Em atividade com um filme, procurando mostrar um ser humano vivendo a vida e construindo seus processos subjetivos no lidar com ela, escuto o estudante perguntar: "Professora, o que a garota do filme teve foi um transtorno de adaptação?" - a resposta é não! Ela não teve um "transtorno de adaptação". Ela teve um momento de vida significativo, que fez com que ela sentisse uma dor pela perda, um encontro com a solidão, a necessidade de uma reconstrução de si, pois seu mundo mudou. Ela teve uma processo subjetivo de diálogo consigo mesma e com o mundo, que permitiu ela caminhar por sua história e resolver sua situação angustiante. Ela viveu um processo subjetivo, não algo fora de uma métrica.
       Não é possível negar a existência dos transtornos, mas é possível compreendê-los de uma forma que não seja a patologizante, tão comum no modelo biomédico, que procura as doenças e, acreditando compreender a doença, indica os seus remédios. Para sair desse modelo temos que trocar os óculos de visão de mundo. As "doenças" são construídas. E quem as constrói, pode desconstruí-las.
      Não é justo olhar o ser humano buscando a doenças ou tentando encaixá-lo num métrica. É justo olhá-lo como um potencial expressivo, que é capaz de criar a si mesmo e se recriar, sabendo que seu espaço de vida é social, é cultural e que faz história.
      Existe um mundo em função da métrica. Difícil sair disso. O que precisamos é nos liberar da métrica como sendo a única verdade possível, gestando novas possibilidades, novos conceitos. O humano tem predisposição para ser muitas coisas. Para ser e para não ser. Interessante é captar a dança entre essas possbilidades, perceber quando se identificou com uma e ali estacionou, compreender se esse estacionamento causa prazer ou dor. E caminhar, caminhar. Ser humano é caminhar, senão não seríamos bípedes e verticalizados, com dois pés firmados no chão da Terra.

Um comentário:

  1. Ao ler essa mensagem fico extremamente agradecida em saber que hoje não sou escrava da "métrica"... como diz: Conhecerei a verdade e ela te libertará... Conhecer a Teoria da Subjetividade e você professora, como a prática dessa teoria, eu fui capaz de criar e recriar novos conceitos e estilo de vida,encarar o desafio com ousadia e determinação.Tudo resume em uma palavra GRATIDÃO por você fazer parte da minha nova configuração. Bjs.

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