Minha razão

Olá!!
Criei esse espaço para postar subjetivações subjetivantes do sujeito que sou!
Filosofia, psicologia, educação.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Quem adoece é o todo e não a parte

       Nossos sintomas são nossos parceiros de caminhada. Quando aparece um sintoma, seja ele psíquico ou fisiológico, importante compreendermos o que esse sinal procura alertar. Posso passar por ele mais descompromissada, olhando-o como se ele fosse isolado de um todo maior. Entretanto, quando permito ampliar meus receptores, percebo que esses sinais fazem parte de um caminho de desenvolvimento e podem me ajudar a crescer e transformar.
       Já comentei em outras postagens que transformar dá trabalho e assim adiamos a transformação para um dia qualquer, que não sabemos bem qual é. Todavia, quando emerge um sintoma forte o sistema está falando: luz vermelha, há algo em seu percurso que é necessário atentar. Um sintoma que cresce sem desvios pode levar o sistema todo a colapsar.
       Mas existem os remédios e eles aplacam os sintomas. Quantos são os pacientes que perdi para os remédios! Nem tenho como contar. "Ah, agora estou tomando remédio e dormi bem!" ou "Ah, agora estou tomando o remédio e consegui acordar bem!" ou "Ah, agora estou tomando o remédio e consigo o foco no meu trabalho e estou mais calmo com meus filhos!" E por aí afora!
       Só que desconsideramos que nosso cérebro, por funcionar por auto-regulação, pode produzir substâncias por ele mesmo que podem regular meus sinais psíquicos e corporais. Só que para conseguir isso, não posso adiar uma transformação para um dia qualquer que nunca chegará.
       Quando falamos em sintomas fisiológicos soma-se a possibilidade de compreendermos que o sintoma "veio por agente externo". Uma gripe foi um vírus, uma inflamação foi uma bactéria, um desarranjo foi um fungo. Só que com isso anestesiamos a noção de que o fungo, ou bactéria ou vírus se desenvolveu em mim, um corpo integrado. São níveis qualitativos distintos, um fisiológico, um emocional, outro racional, mas todos são camadas da mesma unidade.
       Não sou a primeira que vou defender isso e nem serei a última, mas considero relevante aproveitar o sintoma para crescer, para desenvolver, para transformar. Existem livros que universalizam os signos, mas defendo que os mesmos precisam fazer parte de um diálogo com o ser singular que apresentou o sintoma. Talvez uma reação alérgica nos pés (muitas vezes resultantes de uma colônia de fungos que escolheu esse local para se desenvolver) pode significar "não quero caminhar", mas talvez possa significar "cansei de caminhar". Quem sabe possa ainda significar "quero alguém para caminhar comigo" ou "cansei de caminhar ao lado desse alguém". Não temos como determinar, não temos como precisar. Estaria algo nos pés ligado ao caminhar? Ou estaria ligado ao suportar, ao estabilizar, ao parar? Muitas possibilidades se abrem.
       Daí a importância de falarmos em sujeito. O sujeito do sintoma. Nenhum profissional tem o direito de marcar um singular com o social, ainda que de saída saibamos que esse sujeito só existe por ser social. O singular precisa do direito de fala. Nosso trabalho é encontrar armadilhas, desarmar contradições, indicar confluências, sinalizar gatilhos, apontar desdobramentos.
       Um bom profissional de saúde educa para a consciência e não se sobrepõe, assumindo um lugar de dono do saber, de portador de todos os códigos e de detentor da resolução. Podemos conhecer as medicinas, podemos colocar em confrontos as experiências daqueles que nos procuram, mas jamais devemos assumir o lugar de soberano ante todo o saber.
         

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