Minha razão

Olá!!
Criei esse espaço para postar subjetivações subjetivantes do sujeito que sou!
Filosofia, psicologia, educação.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

E tudo é aprendizagem ...

Os dons da plasticidade nos permitem adaptação a uma ampla gama de ambientes. E tudo se produz via aprendizagem.

Nosso cérebro não é algo "preso às estruturas", pois ele é dinâmico, cria a si mesmo e cria a realidade. Foi essa capacidade de se modificar que permitiu avançarmos no tempo e no espaço, fazendo cultura e fazendo a história que nos modifica. A cultura agiu no cérebro, que agiu na cultura em movimento dialógico. Por ser cerebral, é biológico, mas, por ser cultural e histórico, é também subjetivo.

Quando uma criança aprende a falar ela recapitula o processo filogenético da espécie. Da mesma forma, quando aprender a ler. Nessa dinâmica de transformação neural a criança refaz o percurso que a humanidade fez até aprender a ler e também escrever. Começa nos 35 mil anos passados (ou mais) dos primeiros registros rupestres, algo que remonta a existência de umas 580 gerações, em estimativa livre. Nesses avanços culturais começamos a integrar sistemas motores e visuais. Daí passamos aos hieróglifos, ainda ligando imagem e significado. Os hieróglifos são formas de representação que usam figuras para designar objetos. Daí passamos ao alfabeto fonético e isso é um grande avanço, pois integramos sistemas visuais, motores, de representação e sentido e também o auditivo. E um sistema altamente complexo que nos possibilita ler e escrever e que foram necessários milhares de anos para desenvolver.

E esses três sistemas básicos, que são o auditivo, o visual e o cinestésico (do movimento), proporcionam a emergência de um outro sentido, o da propriocepção. Nossas linguagens integram sistemas corticais de imagens, sons, representações, memórias, signos e significados. Somos portadores das chamadas funções psíquicas superiores por um processo filogenético que levou longo tempo para se organizar. Somos hoje representativos e proprioceptivos como resultado de um caminhar pelo planeta ao longo de muitos e muitos anos.

As partes integradas geram um todo maior e, portanto, o paradigma que nos auxilia a compreender nossa biologia é o da complexidade. O sentido de partes e todo, de caos e ordem e, de redes integradas são os pressupostos que sustentam a compreensão de nossa multissensorialidade.

O cérebro é um órgão que se modificou e o nosso não é igual ao de nossos ancestrais e antepassados. Essas mudanças derivam da cultura. Da mesma forma, todas as espécies vivas possuem sistema nervoso neuroplástico. O que vai nos diferenciar de outras espécies antropoides é a quantidade de neurônios que temos, que é maior do que alguns símios. Isso é o que faz grande diferença na hora de produzir cultura e linguagem.

E para nossas crianças a cultura passa a ser uma segunda natureza, marcando profundamente a sua configuração cerebral. É por isso que muitas vezes aprender um segundo idioma torna-se algo tão difícil. Estar em outra cultura será sempre um "choque cerebral". Mudar de país sempre vai resultar em algum tipo de traumatização em tecidos cerebrais, merecendo cuidados e atenção neuroplástica.

Tudo é aprendizagem e tudo é também ação. Quanto menos faço algo, menos quero fazer. Se estacionei e não quero mais desenvolver, não mais desenvolverei. Da mesma forma, quanto mais faço, mais sinto vontade de fazer. Quanto mais aprendo, mais tenho energia e vontade para aprender. Esse é o princípio do use ou perca, uma das leis da neuroplasticidade e considerar isso é vital para ajudar pessoas que não conseguem avançar e desenvolver.

No caso de nossas obsessões, de nossos transtornos compulsivos, aprendemos a travar nosso cérebro e ficamos com muita dificuldade de avançar, de virar a página e continuar o enredo. Ficamos parados em um ponto. Para conseguir virar a página precisamos nos conscientizar: "sim, eu tenho um problema, mas não é o evento e sim a forma como o evento está configurado em minha programação". Em outras palavras, precisamos agir na forma e não no conteúdo da questão. Jogar a pessoa no conteúdo (tenho medo de avião, fechei a porta da casa? ou minha família é tensionante) não ajuda a mudar o processo. Precisamos trabalhar na forma, que seria afirmar-se "sim, tenho um problema, mas não é minha família, é só minha obsessão". Com o tempo vou observando os efeitos do conflito (medo de avião) e vou me afastando deles (isso não sou eu, é só uma parte de mim mesmo que eu posso alterar). Quanto mais foco no conteúdo (minha família é um estresse e é feita por pessoas desreguladas), mais eu aumento o problema em termos de assembleias neuronais, mais eu recruto neurônios para sustentar essa questão. Existe sim uma forma universal de transtorno obsessivo compulsivo (pensamentos ansiosos e impulsos que invadem a consciência), mas os conteúdos são singulares (será mesmo que fechei a porta da casa? Vou voltar e conferir!).

Portanto o melhor é não mergulhar os pacientes nos conteúdos e sim no exercício de desmontar a armadilha. Precisamos trabalhar na forma, trabalhar nos defeitos fazendo algo para mudar a marcha. manualmente. O sujeito da ação é que tem a capacidade de usar o córtex para refocalizar e trabalhar no pensamento concentrado, buscando também as ações diferenciadas e suficientemente boas para liberar a dopamina necessária para firmar o novo comportamento e fazer com que o cérebro o busque mais e mais. E isso requer treino cotidiano. Não adianta querer mudar e não praticar a mudança. Precisa de ação concreta periódica, com tempo de pelo menos 30 minutos a cada vez.

Isso é resultado de aprendizagem, ou seja, aprender um novo jeito de ser. Quanto mais cristalizado um Eu doente, mas persistência, compromisso e ação essencial são necessários para alterar seus próprios mapas cerebrais.

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