Minha razão

Olá!!
Criei esse espaço para postar subjetivações subjetivantes do sujeito que sou!
Filosofia, psicologia, educação.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

A couraça e o caráter, em poucas palavras

       Wilhelm Reich foi um psicanalista que percebeu limites ou impossibilidades nessa via de compreensão do humano, avançando na tentativa de compreender a saúde e a doença por vias bioenergéticas (não só psico-energéticas).
       Freud marcou a história da psiquiatria e da psicologia por fornecer elementos impactantes que traziam o inconsciente como via de produção de sintomas, antes compreendidos como sintomas orgânicos. Seu tempo era de consolidação da psicologia como uma ciência natural, que buscava cada vez mais pautar-se pelo observável, mensurável, e ele apontou a necessidade de compreensão do imensurável e do não observável elaborado por vias indiretas e difusas. Freud fala de um aparelho psíquico organizado em Isso, Eu e Supereu que maneja uma economia energética via troca entre essas instâncias. Além disso, fala em dinâmicas de inconsciente, sub-consciente e consciente numa época em que a psicologia queria por toda força tornar-se uma ciência do comportamento perceptivo. Assim, os que vierem depois de Freud, seguindo seus passos, já partiram desse pressuposto por ele apresentado. Um deles é Reich.
       Reich observou que o corpo participava do processo psíquico uma vez que nossas defesas se transformavam em travas psico-físicas. Ampliando o que a psicanálise apresentava como mecanismo de defesa, defendeu que ao longo do processo de desenvolvimento do Eu ocorriam alterações crônicas que formariam o caráter. Em outras palavras, o que produz a formação do caráter seria a rigidez do Eu resultante de uma alteração crônica. O Eu fez isso para proteger-se contra perigos e ameaças, fez por estratégias de proteção. A esta estratégia de proteção crônica Reich chamou couraça. As couraças se formam como resultado crônico do choque entre as exigências pulsionais e o mundo exterior que frustra essas exigências. Isso corresponde a dizer que a criança, em seu impulso de vida, encontrou barreiras que a frustraram e que contribuíram para que ela construisse uma parede corporal de proteção. Para Freud essa parede de proteção estava nos mecanismos inconscientes. Para Reich essa parede chama-se caráter e se constitui numa integração do aparelho psíquico e do aparelho fisiológico. O caráter é uma maneira de portar-se no mundo em dinâmica psico-física conjugada.
       Assim sendo, essa rigidez ou enrijecimento vem acompanhando a pessoa e ela está tão acostumada a lidar com o mundo através dela, que passa a acreditar que essa forma crônica é ela mesma. Enquanto existe um benefício que se origina no caráter, o Eu nunca irá se questionar sobre ele. Todavia se, num dado momento da vida, algo começa a incomodar, o Eu irá deparar-se frente e frente com uma necessidade de transformação que implica seu corpo psico-físico. Se tiver coragem irá empreender um caminho longo e difícil de transformação.
       Nos tempos de Freud e Reich havia um determinismo aprisionante que colocava a mudança como algo raro, pois a cronicidade e a dificuldade de acesso aos pontos inconscientes dificultavam esse posicionamento mais maleável. Hoje os tempos são outros e a leitura de mundo e de humano favorecem às mudanças e as reconstruções de si. Em se falando de corpo, importante conjugar as múltiplas dimensões do humano em seu trabalho de reconstrução de si no mundo: corpo físico e corpo psíquico, marcando a unidade do sujeito.

Para saber mais: REICH, Wilhelm. Análise do caráter, São Paulo: Martins Fontes, 1989.

Nenhum comentário:

Postar um comentário