Minha razão

Olá!!
Criei esse espaço para postar subjetivações subjetivantes do sujeito que sou!
Filosofia, psicologia, educação.

sábado, 17 de setembro de 2016

Onde habita a transformação?

       Fico intrigada com certos textos, supostamente canalizados por entidades não materiais, que afirmam questões relacionadas aos momentos de transformação ou conexão com o todo. Muitas vezes esses textos trazem alento, mas colocam a questão em termos de: "esse é o momento! Abriu-se o portal, aproveite!" Seria assim mesmo? Seria fato que abrem-se portais e fecham-se portais?
       Minha experiência como psicóloga e psicoterapeuta, ou mesmo como ser humano em busca da transformação de si, me deixa pensando que vivemos momentos de transformação acelerada, principalmente em se falando de século XX e século XXI. E essa mesma experiência concreta me indica que o que vivenciamos faz parte de uma grande rede onde o que acontece com a parte acontece também com o todo. Nosso planeta vive algo não fragmentado e sim contínuo. O ser humano faz parte desse processo na medida em que ele, em sua existência, realiza a conexão entre o material e o imaterial. Fazemos parte de um macrossistema que tem em si uma cadência onde o que acontece faz parte de uma orquestra harmônica e uníssona. Sob essa perspectiva prefiro pensar que os portais estão sempre abertos e que o que faz a diferença é a conexão de cada um com eles.
       Cada ser humano é, em si, um microssistema no qual o que ocorre fora ocorre também internamente. E a transformação reverbera, seja de dentro para fora, seja de fora para dentro. São processos integrados e simultâneos. Por alguma via precisa começar. Se está difícil perceber a mudança vinda de fora, importante começar a reverberação por dentro, por si mesmo.
       Assim, cabe a cada ser humano singular cuidar de seus aspectos de transformação. Assim poderemos afinar nosso tom ao da orquestra universal. É um trabalho de ajuste de frequência do Eu ao Todo. E isso pode ser feito a qualquer momento, desde que chegue o sinal: "chegou a hora! É agora! Não posso mais ficar passivo vendo tudo acontecer e perder o bilhete de entrada no trem que leva rumo às frequências vibracionais diferenciadas."
       A energia é injetada a todo momento no sistema e cada um pode reconectar seus sentidos nessa frequência vibracional mais alta. Para isso é necessário trabalhar, sendo que infinitas são as formas e cada um saberá qual a sua: meditação, oração, canalização, alimentação, respiração. Qualquer forma de trabalho disciplinado que mude o estado de consciência ordinário e ponha o ser humano em contato com outras possibilidades de percepção e compreensão são possibilidades de alteração de frequência.
       Sabemos que o estado não ordinário de consciência é uma possibilidade do humano e que não é mais tão difícil acessá-lo, tal como foi nos tempos da escolas ocultistas, que precisavam se esconder para se proteger, dificultando às pessoas comuns o acesso a certos conhecimentos. E também sabemos que não é um fenômeno que ocorre só com alguns poucos escolhidos, que ocorre com o outro e não comigo. Se é possível a um, é possível ao outro, afinal, somos todos os mesmos humanos.
       A forma mais leve, gostosa, fluida e surpreendente de conexão que já experimentei no meu percurso de formação foi o soltar o corpo na música, deixando a voz acompanhar e a respiração fluir espontânea. Deixar o tom da nota musical tocar meu corpo e fazer vibrar a frequência de seu tom e som. Permitir que meus braços transformem-se em asas e meus pés em raízes. Permitir que fale em mim o personagem da dor, da força, da luz e do amor. A música tocando e o corpo vibrando.
       De que corpo estou falando? Do corpo físico, que através dos seus sentidos de audição, visão, tato, olfato, paladar e propriocepção me transporta e me conecta aos outros corpos: emocional, mental, espiritual, conjugando a minha unidade objetiva-subjetiva. Nesse instante de conexão sou e não sou, espontaneamente. Sou um corpo que é ao mesmo tempo material e imaterial, real e imaginário, um todo integrado, tocando em uníssono com a sinfonia do Universo.
      Por essa via o processo humano maior de transformação que vivemos vai sendo expressado no aqui e agora do viver minimizado do Eu. Um Eu que pode ser tantos eus. Uma expressão que permite sair do espaço mínimo e ampliar-se nas possibilidades, caminhando através do espelho que revela tudo o que o Eu pode ser: branco, negro, índio, rico, pobre, inteligente, besta, doutor ou zé ninguém. Todos Eus e tudo o que eu posso ser.
       O que pode ser transformado é a forma de perceber-se e de perceber aquilo que ultrapassa o Eu. É isso que propõem as leituras de psicologia que falam de um movimento transpessoal, ou seja, perceber que o humano pode transcender o que acredita ser há milênios na história da humanidade: Eu. É isso que tantos caminhos espirituais procuram atingir com seus exercícios disciplinados. E é isso que é possível conseguir através da dança e da possibilidade de conexão que ela proporciona ao ser humano.

Grata à Fundacíon Internacional Río Abierto, com sede em Buenos Aires, que me trouxe essa formação.

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