Minha razão

Olá!!
Criei esse espaço para postar subjetivações subjetivantes do sujeito que sou!
Filosofia, psicologia, educação.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

A Crônica dos Gatos

Eu tenho duas gatas, a Mia e a Kira.
A Kira, mais nova, bate na Mia. Assim a Mia, mais velha, me inspira mais proteção. Além do mais, ela já estava aqui primeiro, nós já tínhamos estabelecido nosso diálogo e estávamos nos dando super bem. De noite eu a buscava e já a encontrava protegida em sua casinha, que ficava na área de serviço. Eu olhava nos olhos dela, ela soltava seu miado suave, eu dava boa noite, fechava a porta da cozinha e ia dormir. Tudo harmônico! Mas isso mudou.
Primeiro chegou o Tigre, nosso macho, que eu já sabia que se fosse prá ficar, era pra ser um castrado. Um outro que chegou para ser Mel, e virou Tigre. Eu já tinha perdido outros machos e já tinha aprendido essa lição. Tigre perdeu seus instintos de procriação, mas não perdeu os de territorialidade. Mas, tudo bem; eu tinha duas casinhas e tava tudo tranquilo. Tigre entrou na dança. Não tirou a Mia de sua casinha e ocupou uma outra. Como sua tia Mia, sofreu violência na infância, tem seu rabo quebrado e nos chegou já bem medroso. Tem um trauma biológico. (sua tia tem rabo quebrado e ficou manca) Apesar de traumatizado, é o macho pernóstico, que se sente no direito de vir sentar no meu colo, entre eu e meu computador, quando estamos os quatro aqui na minha salinha de produção, na qual as duas fêmeas já estão acomodadas na sua. (obviamente com a Mia mais perto de mim e a Kira deitada na almofada no chão).
Daí um dia chegou a Kira de carona numa van escolar. A terceira gata, a segunda fêmea. Chegou de surpresa, tentei mandá-la embora, mas não consegui. E daí tudo mudou mesmo. A Mia meio que se marginalizou, pois perdeu sua casinha. O Tigre pegou a dela, a Kira pegou a do Tigre, e não necessariamente nessa ordem. E a Mia começou a passar as noites na rua. Para mim me parece óbvio que meu instinto protetor aflorou total. Para tudo estou como defesa da Mia, tentando colocar a Kira no seu lugar de segunda.
Um dos problemas que te trazem os gatos é que eles são um tanto noturnos e seu ritmo de sono é bem diferente do nosso. Mas eu descobri que a Mia era capaz de passar a noite quietinha, dormindo bem no pé do meu lado da cama, super ciente de que meu casamento ela não podia atrapalhar. Por tudo isso, hoje ela pode dormir em nossa cama.
E eu enxoto a Kira.
Bem, a Kira também é adorável. Não era para ser minha, mas acabou sendo, pois sou eu que os alimento. E a Kira é muito singular. Talvez por não ter tido um trauma de infância como tiveram os outros dois, ela é muito mais saliente. Ela sobe nas basculantes e fica equilibrada na janela do meu quarto, que é uma fina plataforma que beira um abismo. Ela chegou num sistema já estabelecido e demorou para se aventurar no quintal, onde mora nossa cadela descontrolada. Assim, afiou suas unhas no sofá (relaxei, pois era velho e já fui elogiada pela veterinária que estou conseguindo preservar o mais novo); e Kira ficou sendo uma gata de casa (dá até para levá-la para um ap. de boa, pois é a que mais usa a caixinha de areia que fica dentro de casa).
Enfim, não é que eu não goste da Kira, mas eu tenho um cuidado muito maior com a Mia que, dentre outras, está mais velha e com algumas limitações inerentes à idade de uma gata manca.
Então é isso. Esses são os gatos, suas ações e nossas relações. Mas, o que podemos tirar disso tudo?
Talvez uma percepção de que nosso "centro baixo" nos governe na construção de nossas relações e com isso ajuda a coordenar uma dimensão afetiva, subjetiva. O encontro entre o objetivo e o subjetivo. A natureza e a cultura, a matéria e o imaterial. A ação concreta conjugando um processo subjetivo.
Eu vejo minha relação com a gata Mia, que é um ser vivo autopoiético, e compreendo uma configuração subjetiva arquetípica: a relação com as crias, com aqueles que amparamos e ajudamos a criar. Adoro os três gatos, mas minha afeição por cada um deles é distinta. Seria por isso que os pais são diferentes de um filho para o outro?
As circunstâncias, as histórias, os eventos, as identidades. Elementos que, ao se conjugarem, constroem aquilo que vivemos como real.
Essa é a crônica dos gatos!

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