Minha razão

Olá!!
Criei esse espaço para postar subjetivações subjetivantes do sujeito que sou!
Filosofia, psicologia, educação.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

O Eu e o Grupo

       Considerando os processos terapêuticos em suas possibilidades individual e grupal, estudo os livros que chegam novos e os que retornam,para poder melhor trabalhar com os estagiários. Um livro que chegou como novo, pois eu nunca o havia estudado antes, foi Grupo de encontros, de Carl Rogers.
       Eu, que trabalho com subjetividade, aquela marginal que se quer acadêmica, precisei dar um referencial aos alunos de estágio, na hora deles escolherem sua opção de aprendizagem. "O que eu coloco?", e a coordenadora pergunta: "O que você faz?" - Eu esclareço ... então ela sugere: "põe humanismo". Ok! Aceito. Lá vou eu pela terceira via (as três vias são: comportamentalismo, psicanálise e humanismo), aguardar meus alunos de estágio.
     Então os alunos começam a me procurar nessa imensa fila, pois desde sempre, de quando entrou a terceira via, tem sido assim: muita procura ao tal do humanismo. Ao andar da fila, logo percebo que preciso dar o importante esclarecimento aos alunos: "bem, sou humanista, mas não rogeriana, ok?" - vários vieram para "estudar mais Rogers". O fato é que eu não poderia mesmo me dizer rogeriana, em hipótese alguma, pelo pouco que li de Rogers na faculdade e mesmo na vida de formada. Naquele tempo eu li muito mais psicanálise e teorias do desenvolvimento do que o humanismo rogeriano.
       Assim, os semestres começam, os circuitos se fazem, o tempo passa e chega em minhas mãos esse livro que agora leio, e que aqui compartilho.
       A primeira coisa que me chamou a atenção nesse livro foi o seu começo. Ele foi gestado na década em que nasci, e o autor cuida para entrar em seu universo norte-americano que associa qualquer tentativa de trabalho de grupo como uma ameaça ao modelo hegemônico. Constato que os tempos são de Guerra-fria e esse é um assunto que me chama muito a atenção, principalmente por conviver com professores desse tempo, latino-americanos saídos da repressão, que me ensinaram todo o sentido político dos trabalhos de grupo. Com essa leitura em Rogers compreendo o sentido histórico da construção dos trabalhos de grupos na psicologia, evento misturado com o sentido social, político, econômico, entre outros. A clássica disputa entre o individualismo e a integração. Assim, chega a percepção de que esse momento histórico, desses autores dos anos 60 da século passado é fundamental para o momento de construção de sentido ecológico que vivemos hoje, tema esse que trabalho na psicologia social comunitária.
       A segunda coisa que acontece comigo ao ler esse livro é que, mesmo que eu tenha feito algumas individuais no começo de meu processo, preciso reconhecer que grande parte da minha formação foi em grupos, com o Doro, com Maria Adela e até mesmo com Mário Baldani. E todos esse professores conjugaram com maestria o sentido do grupo e do eu ao longo de meu processo terapêutico e de desenvolvimento humano. Então, estou segura com a pedagogia em si no processo de formação dos futuros terapeutas que comigo aprendem.
       Seguindo a leitura do livro, selecionando os capítulos que interessam á formação e que posso usar semestre que vem, encontro nas páginas 142 até 147 uma construção de fases do processo do Eu no Grupo que ajudam muito a fundamentar o que eu procuro desenvolver em meu trabalho. Fico muito grata e resolvo logo trazer Rogers aqui para o meu blog e me curvar ante esse sentimento humanista de terceira via. Esse tópico apresenta passos que traduzem o que vivi e que busco levar em frente no meu trabalho docente. O que está lá escrito, em minha tradução, seria assim: o sujeito separado do objeto o estranha, se aproxima, o reconhece, o incorpora e emerge uma nova unidade, uma nova organização, um novo ciclo, de um novo processo. Um outro Eu.
       Nesse sentido ainda mecânico de pesquisas, tabelas e construção de fases, aparece que o que transforma é a vivência de integração do sujeito com o objeto. E o mais incrível é que, para o Eu, o Objeto é também o Eu.
       Assim, encontro em Rogers (1970/2002), uma referência a um trabalho de Betty Meador que me serve como um apoio acadêmico ao meu trabalho. As fases e um momento de um processo que ajuda a compreender o desenvolvimento do Eu (um si mesmo) dentro do Grupo. No grupo existe amplitude de possibilidades mas, mais que isso, indica um caminho da integração do sujeito e do objeto, algo que poderia ser chamado de "trabalho sobre si", como no Rio Abierto de Maria Adela, "responsabilidade própria", como ensinou o Doro, mas que eu estou buscando traduzir e unificar como "pedagogia de si em si". Existe um caminho pedagógico de olhar o objeto e trazê-lo para si.
       E a leitura do livro segue, pois ainda faltam algumas páginas para acabar a leitura. Todavia deixo um: "grata, Carl Rogers!! Presto a ti também minha consideração".
       Amo ler os contemporâneos, mas não podemos mesmo abandonar os nossos clássicos.

Rogers, Carl. Grupo de encontros, São Paulo: Martins Fontes, 2002.

Nenhum comentário:

Postar um comentário